A eleição de um novo presidente na Câmara dos Deputados, em 1º de fevereiro, pode impactar a reforma tributária que vem sendo debatida no Congresso. A depender de quem vença a disputa interna entre os parlamentares — o candidato Arthur Lira (PP-AL), apoiado pelo governo Jair Bolsonaro, ou seu principal adversário, Baleia Rossi (MDB-SP) —, as mudanças na cobrança de taxas, contribuições e impostos no Brasil tendem a ser diferentes, segundo especialistas ouvidos pelo Nexo.
Há três projetos principais de reforma tributária em tramitação no Congresso. Um deles é de autoria do governo Bolsonaro. Outros dois são de autoria dos próprios parlamentares, um deles elaborado na Câmara e outro no Senado.
3 propostas DO GOVERNO
O projeto de lei enviado pelo ministro Paulo Guedes à Câmara em julho de 2020 acaba com o PIS (Programa de Integração Social) e com o Cofins (Contribuição para Financiamento da Seguridade Social) para criar a CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), com alíquota de 12%. A ideia é enviar novas mudanças, numa espécie de reforma fatiada. Está nos planos de Guedes desonerar a folha salarial e criar uma nova CPMF para compensar a redução na arrecadação dos encargos trabalhistas.
DA CÂMARA
Na Câmara, tramita desde 2019 a PEC 45, de autoria do Baleia Rossi, que prevê a união de cinco tributos (IPI, PIS, Cofins, ICMS e ISS) num único imposto, o IBS (Imposto sobre Bens e Serviços). Por se tratar de uma PEC (Porposta de Emenda à Constituição), sua aprovação é mais complicada do que a proposta do governo. A PEC 45 é defendida pelo atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que apoia a eleição de Rossi.
NO SENADO
No Senado, tramita desde 2019 a PEC 110, que também prevê a criação do IBS, mas com a extinção de nove impostos (IPI, IOF, PIS/Pasesp, Cofins, Salário-Educação, Cide-Combustíveis, ICMS e ISS) e a criação de um Imposto Seletivo sobre, por exemplo, cigarros.
As declarações públicas sobre as propostas
No fim de 2020, Maia disse que a Câmara teria 320 votos (de um mínimo de 308) para aprovar a PEC 45, num aceno de que a reforma tributária teria mais chance de passar com a eleição do seu candidato, Baleia Rossi, na disputa entre deputados. “No modelo brasileiro, o presidente da Câmara não é apenas quem pauta as matérias. Tem papel decisivo na formação da maioria e exerce influência sobre a pauta”, disse Maia ao Jornal da Câmara.
O governo Bolsonaro, por sua vez, aposta que uma vitória de Arthur Lira pode impulsionar o projeto do Ministério da Economia. “Se não é possível caminhar assim [com a aprovação do projeto de lei do governo], eu prefiro esperar. Essa [PEC 45] não é a nossa reforma tributária, a gente espera mais um pouco”, disse Guedes no fim de 2020. Para ele, a PEC 45, já analisada pela comissão mista do Congresso, é incompatível com a proposta do governo, que pretende no futuro apresentar mais um projeto com a desoneração da folha de pagamentos mediante a criação de um tributo sobre transações digitais.
Até o momento, nenhum dos textos das principais reformas tributárias no Congresso passaram pelos plenários da Câmara ou do Senado — os senadores também vão escolher o presidente da Casa em 1º de fevereiro.
A disputa entre os entes federativos
Para Bruno Carazza, professor de Direito e Economia IBMEC e Fundação Dom Cabral, a reforma tributária, seja qual for o modelo adotado, sempre traz disputas envolvendo estados e municípios, o que dificulta sua aprovação. “Tem que ser uma coisa muito cuidadosa porque, quando a gente fala em mudança de impostos, sempre terão ganhadores e perdedores — os perdedores conseguem pressionar o Congresso para que a reforma não avance”, disse ao Nexo.
“No caso da reforma tributária que estamos discutindo atualmente, a PEC 45, de Baleia Rossi, que tem uma regra de transição mais longa [para as mudanças] e cria um fundo em que estados e municípios perdedores serão recompensados ao longo do tempo, a vitória dele aumenta a chance de uma reforma avançar”, afirmou Carazza.
“O Planalto aposta em Arthur Lira porque Guedes tem uma outra visão a respeito da reforma tributária. Então, é provável que, no caso de uma vitória de Lira, o projeto que está na Câmara seja preterido e volte a discussão pela volta da CPMF”, disse o professor.
A disputa entre indústria e serviços
No âmbito dos setores econômicos, Carazza observou que existe conflito de interesses entre as áreas de serviço e indústria. “Essa questão entre Lira e Baleia esconde uma outra disputa, que a meu ver é mais pesada: a disputa entre os setores da economia”, afirmou.
Segundo Carazza, a PEC 45 nivela a alíquota dos impostos para todos os setores. “Hoje, na economia brasileira, a indústria paga mais impostos do que o setor de serviços. Se nivelar, como a proposta de Baleia Rossi prevê, a carga tributária da indústria vai cair e a de serviços vai subir, então o setor de serviços está se mobilizando no Congresso para barrar a agenda do Baleia Rossi”, afirmou.
“O setor de serviços apoia a proposta de Guedes, que desonera a folha de pagamentos”, disse Carazza. “Se Baleia Rossi vencer, ele vai favorecer o projeto dele, mas temos que ver como será essa resistência dos deputados influenciados pelo setor de serviços”, completou.
A nova CPMF como entrave
A proposta de Guedes de criar uma nova CPMF sobre transações financeiras digitais sofre forte resistência no Congresso. E mesmo o presidente Jair Bolsonaro já prometeu publicamente que não ressuscitaria o tributo extinto em 2007 pelos parlamentares, durante o governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Para Breno Vasconcelos, professor de direito tributário do Insper, as experiências de imposto sobre transações financeiras mostram que, a longo prazo, o tributo não resolve a questão da arrecadação.
“A CPMF é um tributo que, num primeiro momento, tem um potencial de arrecadação muito grande — é fácil de ser criado e cobrado, então tem essa vantagem de gerar receitas rapidamente. Agora, com o tempo, as empresas e as famílias aprendem a evitá-lo. Então, ele distorce o sistema e acaba reincidindo sobre quem tem menos”, afirmou o professor do Insper.
“A experiência internacional mostra que todos os países que adotaram tributação sobre operações financeiras nos anos 1990 voltaram pra trás, por gerar muitos efeitos negativos na economia”, completou Vasconcelos..
A urgência da reforma tributária
O Brasil é um país com sistema tributário extremamente complexo, com muitas legislações cruzadas sobre o tema, federais, estaduais e municipais. É país em que os impostos também são regressivos. Isso quer dizer que seu pagamento pesa mais para a população mais pobre do que para a população mais rica.
Vasconcelos disse que a aprovação de uma reforma tributária no Brasil é urgente, independente do modelo que seja adotado. “Não sei se vai ter condições do ponto de vista político para levar adiante a reforma, mas sei que existe um clima no Brasil de consenso sobre a necessidade de promovermos uma reforma”, afirmou.
A transferência de criptoativos e sua conversão em moeda estrangeira para depósito no exterior
Foto: Pixabay
Os criptoativos são um fenômeno surgido a partir do lançamento do bitcoin em 2008, no contexto da grave crise financeira mundial que se iniciou com a quebra de grandes bancos nos Estados Unidos, deixando claro que o sistema bancário não era digno de toda a confiança que julgava ostentar. Assim, o bitcoin foi a primeira tecnologia exitosa em alcançar a transferência de valores diretamente entre as partes, sem a necessidade da intervenção de um terceiro que as legitimasse.
Antes do bitcoin, as tentativas de desenvolvimento de tecnologias de transferência de valores diretamente entre as partes fracassaram em razão da falta de solução do problema de se assegurar a autenticidade das operações sem a presença desse terceiro, o que foi resolvido a partir da engenhosidade conhecida como blockchain e nada mais é do que o uso combinado de (1) criptografia para conferir a autenticidade dos usuários e (2) do incentivo da mineração, que é a contraprestação paga aos pontos do sistema que mantém uma cópia integral do livro-caixa com a integralidade das transações (chamado de bitcoin core).
Dessa forma, quando um usuário dá a ordem de transferência de determinado valor de bitcoin para outro usuário, indicando o número da carteira do destinatário (wallet)[1], esse comando lança um desafio matemático cuja solução tem quatro principais consequências: (1) a efetiva transferência do valor da carteira do remetente à do destinatário; (2) o acréscimo de um novo um bloco (block) ao livro-caixa (bitcoin core), cujas cópias estão armazenadas nos múltiplos computadores que sustentam a rede desse sistema distribuído; (3) o titular do computador que resolveu o desafio matemático é retribuído com valores em bitcoin, o que é conhecido como mineração; (4) todos os outros computadores que armazenam o livro-caixa (bitcoin core) acrescem à sua respectiva cópia essa nova operação, esse novo bloco (block).
Pelo que cada uma das transações que vão sendo solucionadas pelos computadores representam um novo bloco (block) nessa corrente (chain), que é a sequência integral das transações realizadas no sistema bitcoin. Por esse motivo a denominação blockchain.
Feita essa sucinta análise do funcionamento do bitcoin, o pioneiro dos criptoativos, a partir do qual foram desenvolvidas as outras tecnologias, passemos a discutir a prática do crime de evasão de divisas, na forma do art. 22, caput e parágrafo único da Lei nº 7.492/86:
Art. 22. Efetuar operação de câmbio não autorizada, com o fim de promover evasão de divisas do País:
Pena – Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, a qualquer título, promove, sem autorização legal, a saída de moeda ou divisa para o exterior, ou nele mantiver depósitos não declarados à repartição federal competente.
Segundo lição de Leandro Bastos Nunes[2], o bem jurídico tutelado pela referida norma penal é a preservação das reservas cambiais. Dessa forma, se busca a manutenção de valores no plano interno, de modo a prestigiar a economia nacional, já que um dos grandes riscos à economia de qualquer país é a fuga de capitais para o exterior, o que demonstra a falta de confiança na economia local, sendo um presságio de grave crise econômica.
Do ponto de vista da ciência econômica, uma moeda se presta a servir como: (1) reserva de valor, (2) meio de pagamento e (3) unidade de conta. No entanto, nenhum desses atributos são plenamente cumpridos pelos criptoativos, o que impede seu reconhecimento como tal[3]. Além disso, criptoativos não são emitidos pelos Estados, de modo que não são moeda também no plano jurídico. Dessa sorte, o Bacen editou o Comunicado nº 31.379, de novembro de 2017, no qual informa que o conceito de moeda eletrônica, prevista na Lei nº 12.685/2013, não se confunde com moeda virtual (criptoativo).
No entanto, tal como proposto desde o nascedouro do bitcoin, os criptoativos servem como instrumentos de transferência de valores, com alcance global, podendo ser rápida e facilmente convertidos em moeda soberana por meio das exchanges.
Exchanges são instituições que atuam como corretoras virtuais, permitindo a conversão de moeda soberana em criptoativos e vice-versa. Seu funcionamento é muito parecido com o das instituições que prestam serviços de compra e venda de renda variável no mercado financeiro. A pessoa interessada em operar criptoativos registra uma conta pessoal na exchange, a partir do que lhe será possível realizar transferências de moeda soberana, mediante instrumento bancário ou cartão de crédito, por exemplo. Uma vez depositados os valores em moeda soberana em sua conta pessoal, é possível ao usuário comprar e vender os criptoativos oferecidos pela instituição. As exchanges oferecem basicamente dois serviços, compra e venda de criptoativos e a custódia desses valores em carteiras (wallets) a ela vinculadas.
Assim, por exemplo, se utilizando de uma exchange domiciliada no Brasil, um usuário promove a conversão de R$ 2 milhões em bitcoin. Em momento posterior, por meio de uma outra exchange, domiciliada no exterior, esse mesmo usuário faz a operação inversa, e vende seus bitcoins, recebendo em moeda soberana local, ilustrativamente, euro. Na sequência, ele transfere seus euros para uma conta que possui em uma instituição bancária no estrangeiro, sem comunicar as autoridades brasileiras.
Todos os atos descritos podem ser praticados em poucos minutos, pela mesma pessoa, de qualquer ponto do planeta com conexão à internet. No caso narrado, houve a conversão de moeda nacional em estrangeira, com sua remessa para fora do país. É inegável que foi realizada operação de câmbio não autorizada, configurando o crime do caput do art. 22 da Lei nº 7.492/86, conforme já reconhecido pelo STJ (CC 161.123, Rel. Sebastião Reis Junior, 3ª Seção, DJE 05.12.2018).
No entanto, situação diferente é a do parágrafo único do art. 22 da Lei nº 7.492/86, onde não há operação de câmbio para a remessa de moeda para o exterior.
Leandro Bastos Nunes, no trabalho anteriormente mencionado, acertadamente, traça paralelos da utilização do bitcoin como meio para a prática da evasão de divisas, com os casos do emprego de “dólar-cabo” para o mesmo fim ilícito, cuja tipicidade penal foi reconhecida pelo STF (Ação Penal 470):
(…) a materialização do delito de evasão de divisas prescinde da saída física de moeda do território nacional. Por conseguinte, mesmo aceitando-se a alegação de que os depósitos em conta no exterior teriam sido feitos mediante as chamadas operações “dólar-cabo”, aquele que efetua pagamento em reais no Brasil, com o objetivo de disponibilizar, através do outro que recebeu tal pagamento, o respectivo montante em moeda estrangeira no exterior, também incorre no ilícito de evasão de divisas. Caracterização do crime previsto no art. 22, parágrafo único, primeira parte, da Lei 7.492/1986, que tipifica a conduta daquele que, “a qualquer título, promove, sem autorização legal, a saída de moeda ou divisa para o exterior” – destacamos. (STF, Tribunal Pleno, Rel. Joaquim Barbosa, j. 17/12/2002)
Dessa forma, retomando o exemplo trazido anteriormente neste trabalho, caso o usuário, após comprar bitcoin com reais e os transferir para uma exchange estrangeira, se utilize dos serviços desta instituição para conversão do criptoativo em moeda estrangeira, ainda que, posteriormente, não venha a movimentar esses valores em moeda estrangeira para uma instituição bancária no exterior, v.g., caso mantenha os valores em euro na conta vinculada à exchange estrangeira, em não tendo sido comunicada essa operação à Receita Federal (o que se exige, ainda, por força do art. 6º, II, a, da Instrução Normativa nº 1.888/2019 da Receita Federal), há o crime de evasão de divisas da parte final do parágrafo único, a depender do valor mantido em depósito, na medida em que houve a disponibilização, no estrangeiro (na exchange estrangeira), de valor em moeda estrangeira.
No entanto, caso não tenha ocorrido a conversão dos valores de criptoativo em moeda estrangeira, ainda que mantido o depósito dos criptoativos na exchange estrangeira, em razão de os criptoativos não serem moeda ou divisa, a conduta é atípica.
Veja-se que nesta situação estarão depositados na carteira (wallet), mantida junto à exchange estrangeira, valores em criptoativo e não em moeda estrangeira.
Por fim, pontuamos que discordamos da expressão “bitcoin-cabo” cunhada pelo mencionado autor, por se mostrar tecnicamente imprópria, já que a operação de “dólar-cabo” exige a presença dos doleiros como peças centrais que registram e compensam as operações de transferência de valores, ainda que não haja a movimentação física do dinheiro. Por sua vez, o bitcoin, como tratado anteriormente, permite que as movimentações sejam feitas diretamente entre as partes, dispensando a intervenção de qualquer terceiro. Desse modo, tal como trazido no exemplo, uma única pessoa, usando os serviços de uma exchange no exterior, pode praticar o crime em análise.
Em conclusão, a transferência de criptoativos e sua conversão em moeda estrangeira, seguida de movimentação desses valores para depósito em banco no exterior, sem comunicação às autoridades competentes, a depender do valor, configura o crime previsto no caput do art. 22 da Lei nº 7.492/86, já que nesse caso os criptoativos são utilizados como meios de transferência de valores, servindo para a prática de operação cambial irregular com o fim de promover evasão de divisas do país. Entretanto, para a tipificação da figura assemelhada, prevista na parte final do parágrafo único do referido excerto normativo, é preciso verificar se houve ou não a conversão do criptoativo em moeda estrangeira pela exchange no exterior, ainda que não tenha havido a movimentação desses valores para o sistema bancário estrangeiro. Em caso positivo, se aperfeiçoou a figura delituosa; em caso negativo, o fato é atípico.
A cocriação é a prática de empresas que buscam a inovação por meio do engajamento e da participação de pessoas, através de construções coletivas de soluções.
No mundo atual, a preocupação de entender o público alvo e fornecer soluções adequadas trouxe o cliente para o centro do planejamento, de modo que ele é atuante nos processos de inovação.
Isso faz da cocriação uma forma de encontrar novas soluções por meio da inteligência coletiva, trazendo benefícios para todas as partes envolvidas no processo.
#2: Valorização da empatia
A crise econômica e social da pandemia do Covid-19 provocou uma reflexão na sociedade, já que diversas pessoas adaptaram seu estilo de vida para essa nova realidade.
Por isso, este é o momento em que muitas empresas mostram empatia pelo consumidor. A ideia é que as marcas sejam ativas em proporcionar momentos de felicidade e tenham compromissos sociais com o bem estar dos clientes.
Por exemplo, a vinícola Rosé All Day, na França, realizou uma campanha para presentear um casal com uma lua de mel dos sonhos no ano que vem. Esse tipo de iniciativa traz à tona um maior humanismo e solidariedade das empresas com o próximo.
#3: Experiência do Cliente
A tendência é que as marcas procurem oportunidades para incluir práticas agradáveis aos seus produtos, serviços e campanhas. O objetivo é proporcionar níveis de satisfação mais saudáveis e felizes entre os clientes, proporcionando a aproximação com a empresa.
Por exemplo, a pizzaria Domino’s usou drones para entregar descontos de pizza em apartamentos de São Paulo, trazendo uma experiência criativa para se comunicar com o público durante o isolamento social.
Dessa forma, o encantamento durante a jornada do cliente se tornou um diferencial extremamente competitivo nos dias atuais.
#4: Novos Hábitos de Saúde
O mundo precisou se adaptar rapidamente para conter o coronavírus, sendo assim o isolamento social foi ampliado e as pessoas se preocuparam mais com a saúde mental e física.
Devido à essa mudança, surgiu a importância de alterar velhos hábitos e introduzir práticas cotidianas que proporcionam maior higiene e segurança.
Nesse momento, a população está procurando fortalecer o sistema imunológico através da alimentação saudável, exercícios físicos regulares e práticas de autoconhecimento, como meditação e terapia.
#5: Meio Ambiente e Tecnologia verde
O desenvolvimento sustentável do planeta sempre foi pauta em relevantes discussões, e no mundo do “novo normal”, todos os setores estão atentos às novas transformações que otimizam resultados e garantem manutenção da natureza.
Muitas empresas estão adaptando sua postura, como a Natura que conquistou grande visibilidade com esse propósito de fornecer produtos sustentáveis ao mercado brasileiro, além de cativar novos clientes que estão cada vez mais engajados na causa de proteção do meio ambiente.
#6: Integração da mídia social com a rede social
As mídias sociais são espaços para a distribuição de conteúdo e divulgação de marcas, enquanto redes sociais são canais de amizade e networking. Embora sejam serviços diferentes, eles estão cada vez se complementando mais.
As empresas estão atentas a esse movimento, já que, segundo uma pesquisa realizada pela consultoria americana ComScore, os brasileiros gastam cerca de 1 hora e 22 minutos do dia usando as redes sociais. como Facebook, Twitter, Instagram e jogos online.
Por conta disso, nas atuais plataformas digitais, é possível comprar e vender produtos e serviços, criar ou consumir conteúdo ao mesmo tempo que se relaciona com quem você gosta.
#7: Trabalho e Educação Remotos e mais flexíveis
O trabalho remoto já era realidade em alguns trabalhos ligados aos serviços. Devido ao isolamento social, muitas empresas se adaptaram rapidamente em trabalhar de forma remota e perceberam que esse modelo proporciona, muitas vezes, redução de custos e maior produtividade.
Neste contexto, o mercado da educação viverá uma grande transformação, como aumento das aulas virtuais, sejam elas ao vivo ou gravadas.
Professores, alunos e, principalmente, instituições de ensino se adaptarão em uma nova realidade digital que transformará todo o modelo de educação que existiu durante dois séculos.
#8: Conectividade & Infotech
A 4ª Revolução Industrial está acontecendo rapidamente, mudando as dinâmicas dos negócios, das cadeias de valor, da gestão do conhecimento, da formação e educação de pessoas.
Nesse contexto, a expansão das redes de conexão, chips inteligentes e supercomputadores estão movimentando o mercado e alterando velhos hábitos de consumo e interação entre as pessoas.
Essa conectividade está sendo implantada nos serviços de educação (a ampliação das plataformas de ensino), uso da logística (soluções integradas que se comunicam em tempo real) e internet das coisas (relógios, geladeiras e diversos produtos ganham conectividade).
#9: Novos Modelos de Negócios
Como em todos os momentos de mudança, algumas empresas estão fechando as portas, enquanto outras aumentam os ganhos.
Nesse cenário, um restaurante sueco encontrou uma maneira diferente de manter o negócio. O estabelecimento serve apenas um cliente por vez no meio do campo, em uma experiência que contrasta com opções de outros locais, como os restaurantes com cabines individuais criados em Amsterdã.
É notável que esse cenário de adaptação para nova realidade, traz consigo transformações que emergem para construção de novos modelo de gestão e de negócios.
Saiba quais números acompanhar, como definir objetivos e quais tendências observar no seu planejamento de vendas para 2021
Durante esse ano extremamente atípico, é provável que as coisas não tenham saído conforme o planejado na maioria das empresas. Ainda assim, chegamos ao fim do ano um pouco mais familiarizados com os desafios, ainda que os tempos sejam de incerteza.
Nesse contexto, é preciso revisitar os aprendizados que 2020 trouxe e traçar um planejamento de vendaspara o próximo ano. Sim, você não deve esperar que 2021 chegue para se preocupar com isso!
Neste artigo, vamos te mostrar como tirar o máximo de proveito de tudo o que aconteceu em 2020 para planejar um 2021 de sucesso para a sua empresa.
Acompanhe!
Quais números observar antes de construir o planejamento de vendas para 2021?
O primeiro passo para estruturar o planejamento de vendas do próximo ano é entender o que aconteceu no ano que termina. É essencial olhar para trás e relembrar todas as ações, investimentos, eventos, mudanças e novidades que fizeram parte de 2020 e influenciaram as vendas – de forma positiva ou negativa.
Comece por um olhar mais amplo pelos números do ano, depois coloque-os em contraste com as taxas de conversão e avalie a evolução delas ao longo do período. Vamos falar em detalhes sobre cada etapa desse diagnóstico a seguir:
1. Métricas de volume
As métricas de volume são basicamente os números que a sua empresa alcançou em 2020, como:
Leads gerados;
Oportunidades trabalhadas em vendas;
Novos clientes;
Valor total vendido no ano.
Esses números não significam muita coisa quando vistos individualmente, então é preciso compará-los com outros. Um ponto de partida pode ser comparar os volumes do ano anterior com os de 2020, se você tiver esses dados. Contudo, tenha em mente que o número absoluto ser maior ou menor não quer dizer crescimento ou diminuição real.
Você pode ter gerado mais Leads em 2020, mas ter fechado menos vendas. Ou seja, o aumento não significou resultados melhores no fim das contas. Por isso, ter os números em mãos é importante, mas o que vai dar significado a eles são as taxas de conversão.
2. Taxas de conversão
Para essa etapa, separe os resultados do seu funil de 2020. Vamos olhar para duas taxas de conversão, principalmente: Leads em oportunidades e oportunidades em vendas.
Esses índices vão colocar os números absolutos em perspectiva. É com eles que vamos entender se a geração de Leads foi suficiente, se a qualificação está funcionando, se há algum gargalo em vendas e como podemos melhorar o processo de ponta a ponta.
Se você já fazia um bom trabalho de acompanhamento de métricas, compare as taxas de conversão de 2020 com as de 2019 e procure identificar em quais quesitos os resultados foram melhores, piores ou se mantiveram estáveis. Isso vai ajudar muito a criar o planejamento de vendas para 2021, sabendo das estratégias que deram certo e os erros que devem ser evitados.
Para empresas que ainda não têm histórico de métricas, é mais importante ainda documentar essas taxas de conversão para fazer as previsões para 2021 e ter base para comparação.
3. Evolução ao longo do tempo
Com os números e as taxas de conversão em mãos, é hora de adicionar mais uma variável à análise: o tempo. Estamos falando em dividir o seu ano em alguns períodos, como trimestres (quarters) ou semestres e verificar a evolução dos resultados.
Isso significa também confrontar os resultados de cada período. Compare os trimestres e busque entender o que aconteceu em cada momento, o que influenciou aqueles resultados. O que deu mais certo? O que não foi legal?
Essa análise também vai ajudar a identificar sazonalidades no seu ano. Em alguns segmentos, as vendas só ganham força depois do Carnaval. Em outros, os meses de férias escolares são os melhores em faturamento. Entender como o seu público se comporta é fundamental para o planejamento comercial do próximo ano, especialmente na definição das metas de vendas.
Em resumo, para realizar um diagnóstico completo de 2020, colete suas métricas do ano inteiro, calcule as taxas de conversão em cada etapa do funil e visualize o comportamento das suas vendas ao longo do ano. Com esse diagnóstico, você terá mapeado os erros e acertos e poderá iniciar o seu plano estratégico para 2021.
Onde conseguir as informações para o planejamento de vendas?
Antes de partir para a prática, vamos responder uma dúvida muito comum: “qual a melhor forma de acompanhar meus resultados?”.
Se a sua empresa ainda utiliza planilhas e documentos avulsos, será muito difícil conseguir todos os dados que listamos acima para construir seu diagnóstico. Outro ponto que fica mais complexo é a própria análise dos números e taxas de conversão: esses relatórios precisarão ser feitos à mão.
A melhor maneira de controlar seu processo comercial e analisar seus resultados é usando um CRM. Para 2021, se você não utilizou a ferramenta, infelizmente o seu diagnóstico e planejamento de vendas vão ser um pouquinho mais trabalhosos.
Mas, vale a pena incluir no plano a adoção de um CRM, de preferência antes de 2021 começar, para já entrar em janeiro com o pé direito.
Além do CRM, aqui estão sugestões de outras ferramentas que são muito importantes para alcançar resultados melhores em 2021:
Você também pode considerar contar com uma ferramenta de BI, para facilitar a visão dos dados e relatórios.
Na prática: como fazer o planejamento de vendas para 2021
Agora que já falamos sobre a importância de um diagnóstico para basear os próximos passos, vamos nos aprofundar no planejamento de vendas.
Podemos dividir um planejamento em dois grandes momentos: definição dos objetivos macro – que incluem a estratégia comercial para 2021 e a previsão de vendas – e os objetivos micro, que dizem respeito à operação, ao dia a dia.
Tenha objetivos macro
Nessa etapa, estamos nos referindo aos objetivos principais, aqueles que vão direcionar suas ações ao longo de 2021. Em geral, as empresas conectam seus objetivos macro à ideia de aumentar as vendas, gerar mais receita, trazer mais clientes.
Esse pode ser o objetivo principal para o seu 2021. Porém, é essencial olhar para o diagnóstico de 2020 para descobrir como alcançá-lo. Se você quer vender mais, temos pelo menos duas hipóteses: ou será preciso gerar mais Leads, ou aumentar as taxas de conversão de Leads em oportunidades e de oportunidades em clientes.
Você encontrará essa resposta no diagnóstico. Onde estão os gargalos do processo? O volume de Leads foi baixo? A qualificação foi ineficiente? Os vendedores performaram abaixo do esperado?
Com o seu objetivo em mãos, você poderá definir a estratégia comercial para 2021 e fazer uma previsão de vendas para cada período do ano.
Definidos os objetivos macro, o próximo passo é desdobrá-los em objetivos micro.
Defina objetivos micro
Como falamos há pouco, os objetivos micro são relativos à operação. Eles são todos os degraus que o seu time precisa subir em direção ao objetivo principal, são o caminho.
Podemos falar que são objetivos micro:
Treinar o time comercial;
Investir em novas rotinas de gestão;
Reformar o escritório para acomodar melhor a operação;
Lembre-se de atrelar seus objetivos micro ao alvo principal, e de criar planos de ação para cada item.
Por exemplo: se o seu objetivo macro é aumentar o volume de Leads no topo do funil, e um dos objetivos micro é diversificar os canais de aquisição, o plano de ação vai envolver pesquisar, estudar e testar os canais que deseja utilizar. Além de capacitar pessoas do time para trabalhar com eles, contratar ou demitir pessoas e definir métricas e prazos para mensurar os resultados.
Com isso, fica claro para todos os envolvidos quais serão seus papéis dentro de cada objetivo!
Também é importante detalhar no plano o que cada micro objetivo vai demandar, em termos de recursos:
Dinheiro;
Pessoas;
Tempo;
Ferramentas;
Mudanças de processos;
Acesso a dados.
Assim, será mais simples priorizar os objetivos e evitar o desperdício de recursos. Por fim, defina como cada micro objetivo será acompanhado e mensurado, especialmente aqueles que se relacionam diretamente à performance do time.
Recomendamos determinar entre 4 e 5 KPIs para seguir cada um dos seus objetivos macro, como ticket médio, duração do ciclo de vendas, taxas de conversão e o volume de ligações realizadas pelos vendedores.
Nos objetivos micro, escolha indicadores derivados desses KPIs, como o ticket médio das oportunidades no funil, o tempo médio esperado de fechamento e a média de ligações que cada vendedor consegue fazer semanalmente.
Esteja atento às mudanças causadas pela pandemia
Não há como negar que a pandemia afetou a maior parte dos segmentos de mercado. Cresceram as vendas pela internet, inclusive no B2B, o que forçou negócios a adaptarem seus modos de vender.
Se as vendas pela internet aumentaram consideravelmente, a interação entre vendedores e possíveis clientes se tornou mais digital mesmo entre as empresas mais resistentes. De tendência, a transformação digital em vendas se tornou uma realidade. Por isso, leve em consideração que em 2021 pelo menos uma parte das vendas deve seguir sendo feita de maneira remota.
Além disso, é preciso levar em conta a nova realidade vivida pelos clientes. Empresas precisarão diminuir gastos, possivelmente trabalhando com orçamentos limitados em 2021. Nesse contexto, pode fazer sentido uma revisão da sua política de preços. Flexibilidade para lidar com os tempos incertos também é desejável.
Fique de olho nas tendências
Na hora de fazer o planejamento de vendas, fique atento também às tendências para o próximo ano. A tecnologia, por exemplo, deve ser ainda mais fundamental. Ao mesmo tempo, nesse contexto em que muitas interações são digitais, oferecer um atendimento humanizado e personalizado pode ser um diferencial.
Em meio ao medo relacionado às deepfakes, pesquisadores brasileiros reproduzem vozes em português e defendem que há um caminho positivo para essa tecnologia
“Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá”, diz o presidente Jair Bolsonaro. “As aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá”, responde o ex-presidente Lula. O diálogo, que até onde Gama saiba jamais ocorreu, é passível de reprodução no site do Mr. Falante.
Realizado pela UFG (Universidade Federal de Goiás) em parceria com a CyberLabs, empresa que trabalha com Inteligência Artificial (IA), o projeto é um dos pioneiros na produção e sintetização de voz no Brasil.
Na página de divulgação do projeto é possível ouvir os ex-presidentes Lula e Dilma, assim como o atual presidente Jair Bolsonaro recitando poemas clássicos da literatura de língua portuguesa. A fidelidade às vozes das personalidades políticas assustam.
Horas e mais horas de materiais são copiados, levando em conta as variações de fonemas dos idiomas, de pronúncias e de diversos fatores que afetam a fala
De acordo com Frederico Oliveira, doutorando em ciência da computação pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e um dos responsáveis pelo projeto Mr. Falante, 30 minutos de uma voz é tudo o que é necessário para os modelos de deepfakes mais avançados clonarem a fala de alguém.
Montagens e edições não são coisas novas, mas as deepfake apresentam uma grande vantagem: a automação. O processo é chamado de deep learning, tecnologia que busca imitar o funcionamento de uma rede neural humana.
O primeiro passo é a construção de banco de dados extenso com a voz que será clonada. “Quanto mais variado o banco de dados, melhor o resultado”, afirma Oliveira.
Em seguida, o modelo recebe o texto transcrito do áudio que será usado para treinamento do modelo. Esse texto é convertido em um áudio e o resultado inicial é quase sempre precário.
“Nós pegamos esse primeiro resultado e comparamos com o áudio original. Então apontamos as diferenças e pedimos para o modelo repetir o processo, corrigindo as imperfeições. O modelo erra menos a cada repetição, chegando a um nível de qualidade satisfatório após um bom tempo”, explica o cientista.
Horas e mais horas de materiais são copiados pelo modelo, que leva em conta as variações de fonemas dos idiomas, de pronúncias e de diversos outros fatores que afetam a fala de alguém.
O projeto, que começou há mais de um ano, passará a ser comercializado nos próximos meses. Luísa Moncorvo, engenheira de IA e responsável pelos projetos de voz na CyberLabs, afirma que o intuito da empresa é levar a Inteligência Artifical para o dia a dia das pessoas.
Além do Mr. Falante, a CyberLabs também trabalha com o Speech To Text — onde a voz é transcrita em texto — e com a biometria da voz. Tanto Oliveira quanto Moncorvo acreditam que estamos há poucos anos de ver todas essas tecnologias se popularizando ao redor do mundo.
Mesmo contando com mais de 70 mil inscritos, existe uma pessoa que não é lá muito fã do canal: o rapper Jay-Z. No começo do ano, o músico e sua agência e gravadora Roc Nation LLC notificaram o YouTube e o canal Vocal Synthesis, exigindo a remoção dos vídeos com deepfakes da voz de Jay-Z.
Há um conceito na legislação americana — o fair use –, que permite a utilização de produções protegidas por direitos autorais, desde que entrem na categoria de educação, crítica, sátira, paródia, comentário, jornalismo ou pesquisa. O criador do canal argumenta que a deepfake de Jay-Z se enquadra no conceito de fair use.
No Brasil, a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais) ainda carece de legislação específica que trate das deepfakes. Moncorvo afirma que a preocupação com o mau uso da tecnologia é central no desenvolvimento dos projetos e que a CyberLabs não fornece a clonagem de voz sem a permissão da pessoa que terá a voz clonada.
A escolha por figuras políticas recitando poesias também está relacionada a essa preocupação. “Nós usamos o trocadilho com a poesia para dar uma graça, mas é também uma maneira de deixar claro que aquele áudio não é real”, diz Moncorvo.
“Tivemos essa preocupação ao longo da pesquisa, nós não disponibilizamos para o público os modelos que sintetizam as vozes dos presidentes”, afirma Oliveira.
Segundo o cientista, um modelo capaz de verificar a veracidade de uma voz está nos planos do grupo responsável pelo Mr. Falante, mas a pesquisa ainda precisa avançar bastante para que isso seja possível.
“Os modelos de língua inglesa já conseguem reconhecer e controlar com perfeição a prosódia, a variação emocional na entonação da voz. Queremos chegar nesse nível”, fala Oliveira.
A Inteligência Artificial cresce no mundo inteiro, mas os pesquisadores ouvidos por Gama enxergam poucas soluções oferecidas pelo mundo para o português brasileiro. “As pessoas não sabem que existe esse tipo de tecnologia sendo desenvolvida no Brasil. Queremos produzir tecnologia nacional e não simplesmente importar da China, da Europa ou dos EUA”, diz o cientista. “De brasileiros para brasileiros”, finaliza Moncorvo.
Quem tem medo de deepfake?
Em 2019, as artistas Francesca Panetta e Halsey Burgund decidiram criar uma linha do tempo alternativa da história dos EUA. Elas não estudaram física quântica ou projetaram uma máquina do tempo e sim apostaram na tecnologia que, em alguns anos, pode mudar a realidade como conhecemos: deepfake.
O termo, cunhado em 2017, se refere a uma tecnologia que utiliza Inteligência Artificial para sintetizar e produzir vídeos e áudios falsos. Panetta e Burgund criaram “In Event of Moon Disaster”, uma obra de arte que questiona como novas tecnologias podem distorcer, redirecionar ou ofuscar a verdade.
A possibilidade de fazer com que recriações da história e mentiras pareçam fatos fez com que o medo relacionado às deepfakes aumentasse
O projeto simula o discurso que o ex-presidente dos EUA Richard Nixon daria caso a missão da Apollo 11 tivesse falhado. O vídeo de seis minutos utiliza o texto original escrito pela Casa Branca em caso de desastre e adiciona técnicas de deepfake, produzindo um vídeo assustadoramente realista do discurso de Nixon. Nessa versão, o mundo chorou o luto por Neil Armstrong e Buzz Aldrin.
A possibilidade de fazer com que recriações da história e mentiras pareçam fatos fez com que o medo relacionado ao futuro das deepfakes ganhasse mais força com o passar dos anos.
É que com essa tecnologia, verdade e democracia correm risco. Afinal, se um vídeo ou áudio pode ser facilmente editado e parecer real, o que impede o público de acreditar, ou desacreditar, no que bem entender?
Em entrevista à Folha de S. Paulo, Sam Gregory, diretor da organização Witness, diz que não devemos entrar em pânico e sim nos preparar. “Temos uma janela de oportunidade, antes que as deepfakes se tornem ainda mais difundidas, para nos prepararmos melhor para elas do que fizemos nas ondas anteriores de desinformação.”
Para a Folha de S. Paulo, o cientista disse que acredita que plataformas digitais como o Facebook e o YouTube devem assumir uma responsabilidade maior no combate à informações falsas. Além disso, é necessário uma melhor educação virtual para os consumidores, aliado a uma regulação governamental mais forte.
As preocupações são válidas e fundamentais para uma sociedade mais segura, mas existem aqueles que buscam encontrar na tecnologia soluções positivas para problemas e questões atuais.
Deepfake do bem?
Se você ficou impressionado com o poder destrutivo das redes sociais em “O Dilema das Redes” (2020) ou é muito viciado na série “Black Mirror”, é provável que o tema deepfake te deixe levemente preocupado. Afinal, a tecnologia se popularizou ao produzir vídeos pornográficos falsos de famosas, onde o rosto de celebridades eram editados em corpos de outras atrizes.
O mundo do entretenimento promete ser revolucionado com a tecnologia, capaz de rejuvenescer atores, sintetizar novas vozes e até reviver astros que já se foram
Longe de Hollywood, a tecnologia também pode auxiliar em diversas questões do dia a dia. Na área da acessibilidade, será possível sintetizar vozes mais humanas para leitores de texto.
Projetos como o Seeing AI da Microsoft e o Lookout do Google, que reconhecem informações importantes no ambiente e narram com uma voz sintética as descobertas para deficientes visuais, são exemplos positivos do que pode ser feito com a tecnologia.
Interações com atendentes virtuais também alcançarão um novo patamar de realidade, seja com a Siri, com a Alexa ou com operadores de telemarketing computadorizadas. Do sotaque ao timbre, as vozes poderão ser personalizadas para que melhor atendam as expectativas dos clientes.
Além do Text To Speech — onde o texto é transformado em voz –, a tecnologia de deep learning voltada para o áudio possibilitará diversas novidades. Inimigo mortal de toda uma geração, os longos e intermináveis áudios de WhatsApp podem estar com os dias contados.
Em pouco tempo, será possível transformar a inconveniente fala em um texto. Ou vice-versa, caso você precise. Senhas e números de protocolos em ligações bancárias? Nunca mais. A biometria de voz poderá resolver tudo com algumas palavras.
Logo nas primeiras páginas do clássico “Alice no País das Maravilhas”, um coelho branco chama a atenção da jovem protagonista ao passar por ela enquanto retira um relógio do bolso do colete e resmunga “ai, ai, vou chegar atrasado demais”. O animal, que acaba levando Alice a se enfiar por uma toca desconhecida, hoje é visto como símbolo da pressa e da falta de tempo para completar atividades diárias, sentimentos que são também bastante humanos.
De fato, cada vez mais gente vem se sentindo na pele do coelho eternamente apressado, vendo o tempo escorrer pelos dedos em meio à rotina, num momento em que parece impossível se desconectar totalmente do trabalho, das pessoas ou de tudo mais que está acontecendo pelo mundo. O resultado é que, ao final do dia, sobram umas poucas horas para aproveitar o tempo livre.
® Christian Marclay / White Cube
Pode parecer até um certo lugar comum dizer que somos muito mais ocupados hoje do que no passado, mas, de acordo com a psicóloga e escritora britânica Claudia Hammond, essa afirmação não é necessariamente verdadeira. Segundo ela, as pesquisas feitas na década de 1950 sobre o uso do tempo não tinham resultados muito diferentes de estudos recentes a respeito do tema, feitos antes da pandemia. Então, se as pessoas têm em média tanto tempo livre hoje quanto naquela época, a diferença está na qualidade desse tempo.
Sentimos que estamos mais ocupados por causa do desaparecimento dos limites entre trabalho e vida social
“Sentimos que estamos mais ocupados por causa do desaparecimento dos limites entre trabalho e vida social. Só de saber que seu chefe pode te enviar um email ou uma mensagem de texto tarde da noite, você já fica menos à vontade”, diz a psicóloga, autora do livro “Time Warped: Unlocking the Mysteries of Time Perception” (tempo distorcido: destravando os mistérios da percepção do tempo), sem tradução para o português.
Esses limites entre trabalho e tempo de lazer ficaram ainda mais turvos com o isolamento social, que obrigou muita gente a bater cartão direto da sala de casa. A mudança pode acabar mexendo de forma significativa no tempo à disposição para o lazer pela primeira vez desde a década de 1950. Hammond evoca alguns estudos recentes que mostram que, embora o período de trabalho oficial não tenha mudado na maioria dos casos, as pessoas hoje gastam sim mais tempo exercendo suas atividades profissionais. Isso porque, estando sempre dentro de um mesmo ambiente, redobra a dificuldade de se desligar.
A sensação de que nosso tempo está encolhendo não tem tanto a ver com o tiquetaquear dos ponteiros do relógio, mas com a nossa percepção da passagem das horas, esta sim subjetiva. De acordo com a professora de psicologia da Unesp, Mary Okamoto, o home office abrupto e em massa promovido pela pandemia retirou várias das bases da nossa rotina, como os ambientes externos que frequentávamos diariamente e as divisões do tempo em atividades curtas: pegar um ônibus, sair para o almoço, pausar para um cafezinho. Com a mudança, passamos a sentir falta de prazos mais definidos e estranhamos a permanência num único lugar, o que nos força a fazer um novo planejamento do cotidiano.
Para a professora Martha Hübner, do Instituto de Psicologia da USP, a pandemia tornou a experiência do tempo mais pessoal, pois cada um está passando por ela em seu próprio ambiente, com regras — ou a falta delas — estabelecidas de forma individual. “A noção de tempo mudou. Está mais confusa, ilógica, menos unânime. Em geral, a pessoa trabalha mais, se cansa mais, vive menos e, no fim do dia, não percebe que não fez nada daquilo que queria.”
® Christian Marclay / White Cube® Christian Marclay / White Cube
Sem tempo desde sempre
Essa sensação de falta de tempo, no entanto, não é nova. Ela pode até ter se acelerado com a pandemia, mas vinha se fortalecendo desde o início da produção industrial, lá no século 18. “Nós já tínhamos essa sensação de que o tempo é curto, que passa muito rápido. Você termina o dia e sente que não conseguiu concluir todas as atividades que estavam planejadas”, aponta Okamoto.
Além disso, não precisar pegar trânsito ou enfrentar o transporte público lotado todos os dias é certamente uma vantagem, mas que pode ser contrabalanceada por outros aspectos não tão bons assim. Um exemplo é a questão tecnológica. Tarefas simples como entrar num sistema profissional ou fazer um download podem levar muito mais tempo em casa, distante dos recursos de um escritório profissional.
E, por incrível que pareça, também há um estímulo social para estar sempre com pressa: ser apressado pode ser “cool”. Uma pesquisa conduzida em 2017 por professores das universidades de Columbia, Harvard e Georgetown concluiu que pessoas muito ocupadas nos parecem inacessíveis e acabam ganhando um status superior quando comparadas àquelas com mais tempo para gastar. Ou seja, o tempo delas, escasso, nos parece mais valioso do que o dos pobres mortais que podem se dar ao luxo de passear no shopping durante um dia de semana.
“Estar sempre ocupado é uma espécie de medalha de honra”, explica Hammond. “Em parte por esse motivo, nos pressionamos a ser bons em tudo, desde aprender uma nova língua a servir refeições incríveis.” Segundo conta a escritora, um exemplo desse fenômeno é o Reino Unido, que, durante o lockdown, viveu uma febre por aprender a fazer pão sourdough caseiro. “Havia a sensação de que era preciso usar bem esse tempo, em vez de simplesmente passar por ele, o que não teria sido nenhum problema.”
® Christian Marclay / White Cube
Em busca do tempo perdido
Em 1973, o escritor alemão Michael Ende (1929-1995) — autor de “A História Sem Fim”, que deu origem ao clássico da Sessão da Tarde — já estava preocupado com a questão do tempo. Em “Momo e o Senhor do Tempo”, ele criou uma fábula sobre um mundo em que economizar tempo significa se livrar de todas as atividades que pareçam supérfluas, como se divertir, criar peças artísticas ou dormir. Só que, na narrativa, o tempo economizado jamais era recuperado.
A história deixa claro que o autor entendia a subjetividade do tempo psicológico, que fica evidente em uma de suas falas mais conhecidas: “Calendários e relógios existem para medir o tempo, mas isso significa pouco. Todos sabemos que uma hora pode parecer uma eternidade ou sumir num instante, dependendo de como a gastarmos.”
Uma hora pode parecer uma eternidade ou sumir num instante, dependendo de como a gastarmos
Realmente, nossa percepção da passagem do tempo muda de acordo com a situação em que nos encontramos. Atividades prazerosas parecem passar voando, enquanto algo que consideramos pouco interessante, ou chato mesmo, leva uma eternidade para acabar. Da mesma forma, ter compromissos demais ao longo de um mesmo dia deixa a impressão de que não há tempo suficiente para nada.
No entanto, há formas de evitar ou reduzir essa sensação de falta de tempo. Uma delas é criar cronogramas detalhados das atividades do dia, mesmo que eles fiquem só dentro da cabeça. É o que explica Alberto Filgueiras, professor do Instituto de Psicologia da Uerj. “Para pessoas que estão fazendo home office, o ideal é escolher que rotina você quer levar, organizar mentalmente o dia. Quanto mais organizado você for, mais vai ser capaz de lidar com a situação e controlar o uso do seu tempo.”
® Christian Marclay / White Cube® Christian Marclay / White Cube
Mudança de foco
Claudia Hammond sugere que, mesmo em home office, o trabalhador deve ser rígido com os horários de entrada e saída, evitando ao máximo ultrapassá-los. Para desestressar, uma boa ideia é encontrar uma atividade prazerosa que preencha uma pausa de 15 minutos bem no meio de uma tarde desgastante de trabalho. “Pessoalmente, gosto de jardinagem. Agora uma tempestade está roncando lá fora, mas, quando o tempo está bom, passo alguns minutos cuidando das flores e sentindo ondas de relaxamento caindo sobre mim.” Ela reforça que as pessoas não devem se sentir culpadas por parar de trabalhar por alguns instantes, já que a atividade é essencial para manter a saúde mental e ajuda até a aumentar a produtividade.
Procurar outras atividades para não passar tempo demais debruçado sobre uma mesma coisa pode até tornar mais longa nossa percepção do tempo, de acordo com a psicóloga Mary Okamoto. O ritmo do trabalho é diferente daquele do lazer e, em meio à mesmice dos dias vividos na quarentena, alternar esses dois é uma maneira de estabelecer uma rotina diversificada e superar a impressão de que passamos todo o tempo fazendo uma mesma coisa. Só não vale tentar sobrepor o trabalho no computador com a leitura de notícias na internet, pois nesse caso não há uma quebra no padrão das atividades, que continuam bastante semelhantes.
Para quem é obrigado a ficar quase sempre em casa, a dica da professora Martha Hübner é procurar se deslocar dentro do imóvel, trabalhando cada dia, ou até em diferentes horários num mesmo dia, em cômodos diferentes. Isso traria uma mudança visual com potencial para estimular as sensações de mudança e passagem de tempo.
Um problema em meio a isso tudo é que o ser humano tende a achar que, no futuro, terá mais tempo e se organizará melhor do que hoje — pensamento que, aliás, quase nunca se reflete na realidade. Para evitar se sobrecarregar com compromissos a longo prazo — e ter certeza de que vale a pena dizer sim — a sugestão de Hammond é se perguntar: eu precisaria ou gostaria de fazer isso, caso a atividade acontecesse amanhã? Se a resposta for não, não há mal algum em jogar a toalha.
“É preciso aceitar que os compromissos nunca vão acabar, e está tudo bem. Canos estouram, pessoas ficam doentes, coisas inesperadas acontecem. Sempre poderíamos estar fazendo algo mais, mas talvez devêssemos nos permitir descansar. Ou seja, desistir daquilo que não nos traz prazer.”
® Christian Marclay / White Cube
Dicas para lidar melhor com o tempo
Organize o dia. Mesmo que você não se dê bem com planilhas, listar as atividades diárias mentalmente te dá maior controle sobre o uso do tempo.
Não passe tempo demais trabalhando. Seja rígido com seus horários de entrada e saída, mesmo em home office.
Dê uma pausa curta no trabalho para fazer algo que te satisfaça, como cuidar das plantas. Isso ajuda a baixar a ansiedade.
Não trabalhe o tempo todo num só lugar. A mudança de ambientes pode ajudar o cérebro a ter uma noção melhor do tempo que passa.
Para não se sobrecarregar de compromissos, opte sempre por aqueles que sejam necessários e que te deem alguma satisfação no final do dia.
Para Ricardo Voltolini, da consultoria Ideia Sustentável, mais do que deixar de impactar, empresas vão precisar regenerar o meio ambiente
Ricardo Voltolini (Foto: Divulgação)
Não é segredo para ninguém que o comportamento das pessoas tem influenciado cada vez mais os rumos dos negócios em todo o mundo. Com a ameaça do aquecimento global no centro das discussões, companhias dos mais diversos segmentos passaram a tratar o tema da sustentabilidade com mais atenção, assumindo compromissos e revendo posturas até outrora aceitáveis.
Nessa nova era dos negócios, o propósito deve vir antes do lucro. “Evidentemente não existe propósito sem lucro”, pondera Ricardo Voltolini, fundador da consultoria Ideia Sustentável e um dos convidados do Bayer Life, evento promovido pela empresa alemã com o objetivo discutir a transformação digital e o futuro do trabalho.
“A sociedade quer empresas que fazem parte da solução, não do problema. Mais do que deixar de impactar, as empresas vão precisar regenerar o meio ambiente. Vão precisar tornar os ecossistemas melhores do que encontraram”, explica Voltolini, um dos mais respeitados especialistas em sustentabilidade corporativa do Brasil.
De acordo com o consultor, a proteção dos recursos naturais não é mais apenas um discurso de ambientalistas radicais. Hoje, a causa conta com o apoio até de grandes investidores, como Larry Fink, Chairman e CEO do Black Rock, um dos maiores fundos de investimentos do mundo, que afirmou em uma carta recente aos seus acionistas que “no futuro, uma maior transparência nas questões de sustentabilidade será um componente importante da capacidade de cada empresa para atrair capital”.
Para Barbara Dunin, diretora de Relações Institucionais da Rede Brasil do Pacto Global, a nova postura dos investidores tem sido decisiva para a reorganização dos negócios dentro das corporações, que cada vez mais vêm alinhando os seus projetos aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável propostos pela ONU. Atualmente, já são mais de 10 mil empresas signatárias no mundo – 700 só no Brasil.
“Eles perceberam que é possível equilibrar o tripé da sustentabilidade, cuidando dos aspectos sociais e ambientais, sem abrir mão da parte econômica”, diz. “Está claro que esta é uma agenda universal, importante para todas as pessoas, em todo o mundo. As ODSs são apenas uma ferramenta de planejamento para que as empresas possam traçar um caminho mais sustentável.”
Este é, sem dúvida, um caminho sem volta no mundo dos negócios. Por mais que ainda exista certa desconfiança por parte de alguns empresários mais tradicionais, grandes empresas já começam a apresentar metas ousadas para os próximos anos.
Na Bayer, que lançou recentemente sua nova visão “Saúde para todos. Fome para ninguém”, o objetivo é garantir, até 2030, o acesso à saúde para ao menos 100 milhões de pessoas em países em desenvolvimento, incluir, através da tecnologia, 100 milhões de pequenos agricultores, além de trabalhar pela redução de 30% nas emissões de gases de efeito estufa na agricultura mundial. É o capitalismo dando a sua contribuição para um mundo melhor.
O seriado de televisão The Boys, derivado da série de quadrinhos com o mesmo nome e distribuído pelo serviço de streaming Prime Video, angariou imediato sucesso ao redor do mundo, desde a estreia da primeira temporada no ano de 2019. Grande parte deste sucesso se deve ao fato de que a trama retrata brilhantemente a forma como o poder corrompe aqueles que o possuem.
ZAFFARONI aborda o tema do Direito penal do inimigo de modo esclarecedor:
Na teoria política, o tratamento diferenciado de seres humanos privados do caráter de pessoas (inimigos da sociedade) é próprio do Estado absoluto, que, por sua essência, não admite gradações e, portanto, torna-se incompatível com a teoria política do Estado de direito. Com isso, introduz-se uma contradição permanente entre a doutrina jurídico-penal que admite e legitima o conceito de inimigo e os princípios constitucionais internacionais do Estado de direito, ou seja, com a teoria política deste último (ZAFFARONI, 2007, p.11)
No enredo, Vought Internacional é uma empresa multinacional que, entre outras coisas, gerencia a “carreira” e a imagem de super-heróis (Os Sete), que são celebridades absolutas. A monetização existente nesse nicho também é um fator que a série desenvolve otimamente – a valer, os supes (ou supers, na versão traduzida) levam vidas de estrelas e seus poderes lhe logram ocupações profissionais extremamente bem-sucedidas no mundo da mídia, nada diferente dos grandes artistas e modelos de prestígio.
Ocorre que a corporação opera muito além do marketing dos supes, pois de fato é responsável pela criação dos mesmos em laboratórios secretos. Sem adentrar demasiadamente no mérito dos crimes e falta de escrúpulos da empresa ao praticar estas condutas, importa constatar o óbvio: eles têm muito a ganhar com a tomada de poder dos super-heróis e à incorporação dos mesmos ao exército e ao projeto de segurança nacional, o que lhes garante poder irrestrito para agir da forma como quiserem com impunidade.
Com efeito, é retratado que a Vought tem nas suas origens laços com o regime nazista e a busca da criação de super-soldados – o que deixa claro que desde o início da corporação já haviam planos de dominação mundial através de um exército de pessoas com poderes especiais.
Nesta senda, a segunda temporada da série encena o manejo da opinião das massas para atender a determinados interesses. Isso é feito com a criação da figura do inimigo – qual seja, os “super-terroristas” (estrangeiros com super-poderes). A partir dessa delimitação, segregação e criação da figura dos imigrantes como inimigos, o discurso da corporação em favor dos supes busca fazer que se acredite que os mesmos são a única salvação contra este mal que ameaça a sociedade.
Mister lembrar também que a série retrata os super-heróis de uma forma realista, pois o poder os corrompe e a prática de todos os tipos de crimes, tanto para ganho próprio e/ou satisfazer seus impulsos sádicos quanto para manter limpa a imagem da empresa.
Em semelhante análise, no mês de abril de 2020 escrevemos um artigo tratando do tema Direito penal do inimigo e traçando um paralelo com a série La Casa de Papel, disponível AQUI. No referido texto, aborda-se a maneira com a qual o Direito penal do inimigo se apresenta de modo sobremaneira diferente do que se pretende no presente trabalho.
Para ilustrar o argumento oferecido, cabe destacar uma cena onde Homelander (Capitão Pátria) faz um discurso digno de um grande populista. Em sua fala, traz noções corriqueiras nesta espécie de retórica, utilizando-se de frases como “uma nação abaixo de Deus” e incitando lembranças de um passado utópico onde tudo era melhor (mesmo que este passado só exista em um imaginário falseado).
O bombardeio ideológico através dos mais variados meios de comunicação chega ao ponto de fazer com que os cidadãos fiquem em um constante estado de medo e estresse, inclusive chegando-se ao ponto onde ocorrem assassinatos de inocentes a partir da impressão subjetiva da mera possibilidade de que o outro seja um dos supostos inimigos.
Destarte, a proposta de JAKOBS no sentido de que é possível punir, em casos determinados (o inimigo, delinquente, indesejável) antes mesmo dos atos preparatórios em razão de uma suposta periculosidade é exatamente algo que pode causar cenários de caos conforme acima mencionado:
Portanto, o Direito Penal conhece dois polos ou tendências em suas regulações. Por um lado, o tratamento com o cidadão, esperando-se até que se exteriorize sua conduta para reagir, com o fim de confirmar a estrutura normativa da sociedade, e por outro, o tratamento com o inimigo, que é interceptado já no estado prévio, a quem se combate por sua periculosidade (JAKOBS; MELIÁ, 2012, p. 17).
O discurso da propagação do terror sempre foi a mais eficaz ferramenta de propaganda para a manipulação das massas. A valer, a partir do momento em que a sociedade começa a apoiar a ideologia proposta, buscando finalmente o extermínio dos indesejáveis, inicia-se uma era de carta branca para que o Estado de polícia comece a operar sem empecilhos.
Dentro deste contexto, cada cidadão da sociedade vire um inimigo em potencial, sem qualquer critério objetivo e sempre atendendo aos interesses do poder estabelecido. Sequestros, tortura e execuções arbitrárias ocorrem de maneira descontrolada. Os mais variados tipos de crime são cometidos pelos sedizentes super-heróis, que na verdade são verdadeiros vilões totalmente corrompidos pelos seus poderes.
A partir da tática da propagação do terror e da promessa de salvação, delimitando um inimigo imaginário para manter a população em forma de rebanho, sempre com medo e agindo de maneira acrítica, inicia-se o processo da tolerância à diferenciação dos seres humanos entre pessoas e não-pessoas, entre cidadãos e ameaças a serem exterminadas.
Dando espaço para o fomento do preconceito contra o inimigo da vez – subjetiva e arbitrariamente escolhido para atender a interesses pessoais – e abrindo mão paulatinamente das liberdades individuais, cada cidadão não se dá conta de que não há absolutamente nada que impeça que, a depender da vontade subjetiva do poder estabelecido, qualquer um pode ser taxado de inimigo e ter seus direitos extirpados.
REFERÊNCIAS
JAKOBS, Günther; MELIÁ, Manuel Cancio. Direito Penal do Inimigo: noções e críticas. Organização e Tradução de André Luís Callegari e Nereu José Giacomolli. 6.ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2012.
ZAFFARONI, Eugenio Raúl. O inimigo no direito penal. 2.ed. Tradução de Sérgio Lamarão. Rio de Janeiro: Revan, 2007.
O governo federal regulamentou o uso de blockchain no Brasil para o Comércio Exterior, de acordo com o Decreto 10.550, assinado pelo presidente Jair Bolsonaro e o Ministro da Economia, Paulo Guedes, em 24/11.
A partir de agora, a tecnologia pode ser usada na administração, fiscalização, controle e tributação das atividades aduaneiras. A nova lei alterou o Decreto 6.759/2009 que regulamenta todas as operações no comércio exterior. No que se refere à tecnologia blockchain, as mudanças aconteceram no parágrafo 562.
“A Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil do Ministério da Economia poderá dispor:
— em relação à fatura comercial sobre formas de assinatura mecânica ou eletrônica, permitida a confirmação de autoria e autenticidade do documento, inclusive na hipótese de utilização de blockchain;
— e dispensa de assinatura ou de elementos referidos no art. 557 — que trata sobre todas as informações necessárias do importador, com nome e endereço;
— e a inclusão de novos elementos, a serem definidos em legislação específica”.
Blockchain no Governo
O interesse na tecnologia Blockchain no Brasil como uma ferramenta de gestão pode ser medido pelas ações debate promovidas por diferentes esferas de governo. O Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados) desenvolveu uma plataforma de blockchain para a Receita Federal do Brasil (RFB), a ‘bCONNECT’.
O governo federal possui ainda várias frentes que estudam e discutem a tecnologia blockchain. O Programa Centelha, por exemplo, é um projeto que financia novas soluções em Internet das Coisas (IoT), entre outros. A própria Dataprev vai fornecer blockchain como serviço para o Ministério Público Federal.
E tome #TBT! Parece até que essas coisas aconteceram há anos, né? Mas foi em 2020 mesmo! Confere aí alguns dos eventos que rolaram esse ano nos nossos cursos.
The Game Jam
o Global Game Jam em Teresina foi um S-U-C-E-S-S-O! Do Piauí para o mundo, vários jogos criados do zero saíram daqui no fim de semana para uma plataforma global (tudo criado em 48h). Baita orgulho!
Pizzada iCEV
Saca só a nossa Pizzada de volta às aulas para os veteranos e calouros mais maravilhosos desse mundo.
Prêmio Excelência iCEV
O Excelência iCEV é um projeto que visa premiar e reconhecer práticas que se destacaram durante o ano letivo por iniciativa de alunos e professores. O iCEV premiou uma galera que fez a diferença em 2019.
Semana da Mulher iCEV
Respeita a voz delas! A semana foi toda dedicada a semana da mulher. As meninas e meninos se reuniram para falar da diferença entre ASSÉDIO e CANTADA, num bate-papo com vários relatos e discussões muito importantes.
Palestra Mauricio Benvenutti
Crises mudam o rumo de profissões, indústrias e economias inteiras! Essa foi uma das várias lições que a gente aprendeu ontem na palestra online do Mauricio Benvenutti . O iCEV foi um dos apoiadores da superaula “Como agir em momentos de crise”. Deu pra entender muita coisa sobre o contexto que estamos vivendo, viu?
1º Workshop iCEV de Tecnologias Empreendedoras
Que desafios o mercado traz para o futuro? A revolução já está acontecendo! A prova disso é participar de um congresso sem sair de casa. Já pensou? Foi assim o 1º Workshop iCEV de Tecnologias Empreendedoras, totalmente on-line!⠀
Discussões, oficinas e atividades de alto nível foram trazidas por convidados incríveis, para ajudar a transformar ideias em negócios. ⠀
The Summit 2020
Claro que estaríamos novamente na maior experiência de tecnologia, gestão e inovação do Piauí, o Teresina Summit! É uma experiência completa de muito network e conexões para o futuro.
O evento desse ano foi totalmente online e gratuito. O Teresina Summit 2020 veio para consolidar o Piauí na rota dos eventos de empreendedorismo, inovação, gestão e tecnologia do Brasil.
iCEV Talks LGPD
As áreas do Direito, Tecnologia e Administração reunidas:isso é que interdisciplinaridade! O papo sobre a Lei Geral de Proteção de Dados, no iCEV Talks.
I Seminário de Pesquisa de Direito iCEV
A palestra de abertura do I Seminário de Pesquisa de Direito foi pra todo mundo! O encontro foi com André Luiz Souza Coelho, professor de Teoria do Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Prevaleceu entendimento de que o Brasil é um país monogâmico e que não se pode reconhecer duas uniões simultâneas
Foto: Dorivan Marinho/SCO/STF
O STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu nesta semana que o Brasil não admite a existência de duas uniões estáveis ao mesmo tempo, o que impede o reconhecimento de direitos de amantes em discussões judiciais.
Por um placar apertado de 6 a 5, a corte reafirmou que o país é monogâmico e rejeitou recurso em que se discutia a divisão de pensão por morte de uma pessoa que, antes de morrer, mantinha uma união estável e uma relação homoafetiva ao mesmo tempo.
Prevaleceu o voto do relator, Alexandre de Moraes, que foi acompanhado pelos ministros Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Kassio Nunes Marques e Luiz Fux. Divergiram os ministros Edson Fachin, Luís Roberto Barroso, Rosa Weber, Cármen Lúcia e Marco Aurélio. O julgamento ocorreu no plenário virtual.
A decisão foi tomada em processo com repercussão geral reconhecida, ou seja, vale para outros casos similares em curso no Judiciário. Os ministros aprovaram a seguinte tese a ser aplicada pelas demais instâncias da Justiça:
“A preexistência de casamento ou de união estável de um dos conviventes, ressalvada a exceção do artigo 1723, §1º do Código Civil, impede o reconhecimento de novo vínculo referente ao mesmo período, inclusive para fins previdenciários, em virtude da consagração do dever de fidelidade e da monogamia pelo ordenamento jurídico-constitucional brasileiro”.
O processo corre sob sigilo e não tem maiores informações disponíveis nos autos.
No relatório, Moraes afirmou que a ação foi movida pelo amante, que teria mantido “convivência comum” de 1990 até 2002, quando a pessoa morreu e gerou o direito do cônjuge à pensão por morte.
O juiz de primeira instância reconheceu o direito do amante, mas o Tribunal de Justiça do Sergipe reformou a decisão.
Moraes ressaltou que não houve discriminação por parte da corte estadual. Segundo o ministro, o tribunal apenas afirmou que não pode ser reconhecido a união “em virtude da preexistência de outra união estável havida entre o de cujus e uma terceira pessoa em período coincidente”.
“A questão constitucional a ser decidida está restrita à possibilidade de reconhecimento, pelo Estado, da coexistência de duas uniões estáveis paralelas e o consequente rateio da pensão por morte entre os companheiros sobreviventes, independentemente de serem hétero ou homoafetivas”, resumiu Moraes.
O ministro sustentou que o fato de a relação ter durado muito tempo não deve ser levada em consideração e disse que o STF tem jurisprudência consolidada nesse sentido.
“Apesar da longevidade dos relacionamentos extramatrimoniais, a corte considerou que o ordenamento brasileiro veda o reconhecimento estatal de uma união estável concorrentemente com um casamento”, argumentou.
O ministro afirmou que apesar dos “avanços na dinâmica e na forma do tratamento dispensado aos mais matizados núcleos familiares”, ainda “subsiste no ordenamento jurídico constitucional os ideais monogâmicos”.
Moraes citou que até o Código Civil prevê o dever de fidelidade dos cônjuges.
“Por todo o exposto, concluo que a existência de uma declaração judicial de existência de união estável é, por si só, óbice ao reconhecimento de uma outra união paralelamente estabelecida por um dos companheiros durante o mesmo período”, disse.
Primeiro a divergir, Edson Fachin destacou que nesses casos a Justiça deve observar se houve “boa-fé objetiva”. O ministro citou a mesma lei que Moraes para embasar sua posição
“Aliás, esta é a condição até mesmo para os efeitos do casamento nulo ou anulável, nos termos do Código Civil: Artigo 1.561 – Embora anulável ou mesmo nulo, se contraído de boa-fé por ambos os cônjuges, o casamento, em relação a estes como aos filhos, produz todos os efeitos até o dia da sentença anulatória”, descreveu.
Segundo o magistrado, as relações jurídicas encerraram com a morte da pessoa, mas os efeitos de boa-fé devem ser preservados, permitindo o rateio da pensão.
“Desse modo, uma vez não comprovado que ambos os companheiros concomitantes do segurado instituidor, na hipótese dos autos, estavam de má-fé, ou seja, ignoravam a concomitância das relações de união estável por ele travadas, deve ser reconhecida a proteção jurídica para os efeitos previdenciários decorrentes”, justificou.
A ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, publicou um vídeo nas redes sociais para “comemorar” a decisão da corte. “As viúvas ganharam por 6 a 5, quero cumprimentar o STF”, disse.
Ao lado dela na gravação, a secretária nacional da Família, Angela Gandra, também exaltou o entendimento firmado pelo Supremo.
“Seria um absurdo que uma viúva tivesse que dividir a sua pensão sem confirmação de união estável, com base em uma boa-fé que não existia. Nós íamos abrir uma porta para a injustiça e para o enfraquecimento de vínculos familiares tremendos. Graças a Deus houve essa sensatez do STF. Parabéns, não podemos julgar além da lei, além das nossa Constituição”, afirmou.
Prague, Czech Republic – January 1, 2000: Golden Bitcoins on a gold background .Photo (new virtual money )
Bitcoin just hit another milestone in its impressive 2020 run. The cryptocurrency surged 9% to a new all-time high of about $19,860 on Monday, topping the previous peak of $19,783 from December 2017.
It’s been a wild year for bitcoin, which has soared more than 175% since the end of 2019. Prices plunged below $4,000 in March as markets around the globe plummeted due to the Covid-19 economic crisis.
But bitcoin has rallied sharply in the past few months as the dollar has weakened. Crucially, the cryptocurrency has also skyrocketed into the mainstream.
Payments giants Square (SQ) and PayPal (PYPL) both now allow their customers to buy and sell bitcoin. Money management giant Fidelity is launching a bitcoin fund for wealthy investors. Bitcoin futures contracts are even trading on the Chicago Mercantile Exchange.
Prominent investment managers Paul Tudor Jones, Stanley Druckenmiller and Mike Novogratz are bullish on bitcoin as well.
In other words, the days of bitcoin being considered just a fringe investment are over. The cryptocurrency has gone legit.
“This rally is driven by smart and institutional money and not built solely on retail over-speculation,” said Guy Hirsch, managing director for the US at eToro, brokerage and trading firm, in an e-mail to CNN Business. “So many more individuals and asset managers are now buying in.”
The amount of bitcoin currently in circulation is now worth more than $365 billion.
Bitcoin also got a recent boost after a top strategist at BlackRock (BLK), the world’s largest asset management firm, suggested that bitcoin could one day replace gold as a safe-haven currency of choice.
The epic rise in bitcoin has also fueled even more dramatic spikes in smaller cryptocurrencies such as ethereum, XRP, litecoin and Stellar as of late. That may continue.
“Bitcoin hitting a new all-time high…will likely spur a tidal wave of retail investment that pushes bitcoin much higher in short order,” said Denis Vinokourov, head of research at digital assets prime broker Bequant, in an e-mail to CNN Business.
“However, it is unlikely that this inflow will be limited to bitcoin only,” he added. “The ease of access to other assets is much more straightforward than what it was during the last bull run.”
No seu ensaio “a condição humana”, Hannah Arendt remonta aos primórdios da cultura democrática grega para entender os elementos constitutivos do fazer político. No ensaio, percebe-se certa crítica ao gap existente, na sua visão, entre a tradição e a modernidade em filosofia política.
No entanto, o seu olhar se fixa na experiência da polis grega (sobretudo em Atenas), onde etimologicamente foi cunhada a democracia como governo do povo e para o povo, para de lá extrair importantes lições sobre a essência da compreensão do homem como um animal político.
Na obra ela aborda dois pilares da política grega: a ação e o discurso. Pontua ela, que, para os gregos, “o discurso e a ação eram tidos como coevos ou iguais, da mesma categoria e da mesma espécie; e isso originalmente significava não apenas que a maioria das ações políticas, na medida em que permanecem fora da esfera da violência, são realizadas por meio de palavras, mas também, mais fundamentalmente, que o ato de encontrar as palavras certas no momento certo, independentemente da informação ou comunicação que transmitem, constitui uma ação”.
Assim, o discurso, ao lado da ação (práxis), ocupava um lugar central na polis grega. Todos os cidadãos acorriam à ágora, espaço onde eram decididas as questões públicas, para discorrerem entre sim e para acompanhar cada discurso. Os grandes discursos, os grandes oradores eram naturalmente celebrados e admirados.
Entre eles ressalta a figura de Demostenes, eminente orador grego. Essa proeminência do discurso no mundo grego reflete a própria cosmovisão grega, reflete o espirito de um povo.
O povo que, iniciando pela filosofia, elevou a razão ao status de importância coletiva. A palavra grega “logos” é eloquente para expressar o modo de pensar grego. Carregada de significados, a palavra passou a designar uma série de conceitos que vai desde “fala”, “discurso”, “raciocínio lógico”, “razão”, entre outros. Cotejando todas as acepções da palavra, para dela extrair uma noção moderna, poder-se-ia afirmar que ela é uma expressão da racionalidade em todas as suas facetas, inclusive no discurso.
A capacidade de articular ideias, através de palavras e frases, com auxilio entonação da voz e da linguagem corporal, requer certo grau de inteligência (que não coincide aqui com educação formal), utilizada na política, sobretudo, para influenciar pessoas. Nesses termos, o orador é uma espécie de artesão da palavra. Talvez daí decorra o velho preconceito em relação àqueles que almejam a vida pública e padeçam de dificuldades na articulação de ideias nos seus discursos.
Muitos enxergam nessa dificuldade um pecado capital para o desempenho do encargo público. O âmago desse preconceito latente, talvez fundado na tradição política, subjaza na ideia de que aquele que está perdido na sua fala e no seu discurso, não poderia conduzir a coisa pública, pois se não pode realizar com destreza algo mais simples como falar de modo compreensível, claro e inteligível, como poderia ser apto para toda complexidade da administração pública? O fundamento de tais questionamentos é o uso da razão humana em todas as suas potencialidades.
Outra questão importante relativa ao discurso na política: o homem público é uma espécie de profeta, que angaria apoio político por meio da persuasão. Não se pode esquecer o fato de que o líder nazista antes de tomar as armas, empunhou microfones. O profeta precisa que sua mensagem seja compreendida. Linguagem e discurso devem ser os mais ortodoxos possíveis. Um político sempre vende algo; geralmente promessas. Mas tudo isso é viável por meio do discurso (ou das armas, é claro!).
Dentro do âmbito democrático, antes de fazer, o político precisa falar. Com essas afirmações estar-se aqui a mitigar o pensamento maquiavélico que profetas armados são, ironicamente, os mais eloquentes e que os que se fazem melhor entender. Contudo, mesmo os profetas armados precisam da adesão inicial realizada por meio do discurso. Para se convencer as massas pelas armas, é preciso antes convencê-las pelo discurso. É o que se percebe nas revoluções russas e cubanas. Tudo começa no âmbito dos ideais, de novos mundos que são profetizados e que vão ganhando adesão.
Diante do que foi exposto, na maior parte das vezes, a análise da viabilidade política de certo candidato deve perpassar, enfática e inicialmente, em seu discurso, já que nem sempre é possível perceber a eloquência de suas ações nas coisas privadas, de onde ele emerge. A ressalva à “maior parte das vezes” é utilizada prudentemente aqui porque a vida comporta uma série de contingências que não se adequam à regra geral. Por exemplo, no fim do regime militar é possível que qualquer civil, independente do discurso, fosse preferível à manutenção do poder nas mãos dos mandatários militares. Não obstante, o discurso continua sendo, embora considerando a ruptura do fio da tradição política e histórica, fundamental, embora, vez ou outra, ele não seja mais que meras palavras vazias.
Propostas sobre proteção de dados pessoais são debatidas no Congresso
A Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) é uma legislação que tem o objetivo de proteger a liberdade e a privacidade de consumidores e cidadãos. Criada em 2018 e prevista para entrar em vigor em maio de 2021, ela demanda que empresas e órgãos públicos mudem a forma de coletar, armazenar e usar os dados das pessoas. Ou seja, terá impactos significativo nas áreas jurídica, administrativa e de segurança da informação das companhias.
Na corrida por implementar todos os novos processos, muitas empresas e profissionais ainda estão com dúvidas sobre a LGDP. Veja, a seguir, cinco perguntas e respostas e veja como se preparar para as mudanças que vêm aí.
No geral foram cinco principais mudanças:
1 – O cidadão deve consentir o uso dos seus dados, pode pedir cópia deles e solicitar que sejam eliminados ou transferidos
2 – Ao coletar dados, as empresas devem informar a finalidade disso.
3 – As instituições devem adotar medidas de segurança das informações e notificar o titular em caso de incidente de segurança.
4 – A lei instituiu a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), órgão responsável por implementar e fiscalizar as normas previstas.
5 – Há sanções para o caso de violação das regras, como advertência, multa e bloqueio ou eliminação dos dados.
1. O que é a LGPD?
A Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais é uma norma federal aprovada em 2018. Ela estabelece regras para o uso, coleta, armazenamento e compartilhamento de dados dos usuários por empresas públicas e privadas. O principal objetivo é garantir mais segurança, privacidade e transparência no uso de informações pessoais. Com a nova legislação, o usuário terá o direito de consultar gratuitamente quais dos seus dados as empresas têm, como armazenam e até pedir a retirada deles do sistema.
Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais entra em vigor em maio de 2021 — Foto: Reprodução/Governo Federal
Esses dados podem ser números de documentos como RG, CPF, PIS, endereço, ou aqueles considerados pela LGPD como mais “sensíveis” — por exemplo: origem racial ou étnica, filiação à organizações políticas ou religiosas, informações genéticas e de biometria ou de orientação sexual. Vale lembrar que essas características são coletadas de diversas maneiras hoje em dia. É o caso dos apps de celulares que pedem acesso às informações de usuários e os formulários preenchidos em sites de empresas para receber newsletters ou ofertas. Isso também acontece ao participar de promoções em redes sociais, e até ao preencher cupons de promoção no supermercado.
2. Porque a LGPD foi criada?
O aumento dos casos de vazamento de dados nos últimos anos fez com que governos, empresas e sociedade se preocupassem em criar mecanismos para evitar a invasão de privacidade. Outro fator relevante é a perda financeira causada por ataques cibernéticos. No Brasil, a perda foi de R$ 80 bilhões de reais, em 2019, como informa o levantamento mais recente da União Internacional de Telecomunicações (ITU, na sigla em inglês), órgão da Organização das Nações Unidas (ONU).
A LGPD foi inspirada no Regulamento Geral de Proteção de Dados da União Europeia (GDPR, na sigla em inglês), criado em 2018, que trata da segurança de informação dos cidadãos europeus. No Brasil, até o momento, não havia legislação específica sobre o assunto, apenas disposições gerais no Código Civil, Código de Defesa do Consumidor, na Lei de Acesso à informação e no Marco Civil da Internet. Por isso, a expectativa é que a nova lei resolva os impasses sobre o uso e a proteção de dados dos cidadãos e consumidores brasileiros.
3. O que muda para as empresas?
Todas as empresas, sejam PMEs (Pequenas e Médias Empresas) ou de grande porte, terão que atender às exigências da LGPD. Um das mudanças mais importantes é que a nova lei prevê o consentimento expresso dos clientes para o uso das informações. Isso significa que as companhias precisarão deixar claro para quê as informações serão usadas. Normalmente, os formulários nas páginas de Internet e avisos eletrônicos de empresas públicas e privadas perguntam sobre o consentimento dos usuários. A diferença neste quesito é que agora os termos deverão ser mais transparentes.
Por exemplo, se um indivíduo contrata um serviço de qualquer natureza e precisa fornecer informações pessoais para obtê-lo, será obrigatório justificar a necessidade disso. Fica vetado o uso dos dados para outras finalidades que não sejam as que foram acordadas e o armazenamento de informações das quais as empresas não possa comprovar a necessidade. A LGPD garante aos clientes o direito de responsabilizar as empresas caso seus dados sejam roubados por terceiros. Quem descumprir a lei pode ser multado em R$ 50 milhões por infração ou em até 2% do faturamento.
Informações armazenadas sem o consentimento do usuário podem gerar punições para as empresas — Foto: Divulgação/Dell
Vale ressaltar que as novas medidas englobam documentos em formato digital e também no papel. A fiscalização das normas será feira pela Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), um órgão federal criado em 2019. É importante destacar também que a LGPD não se aplica em alguns casos, como, por exemplo, empresas jornalísticas e artísticas, de segurança pública, do Estado e de investigação e repressão de infrações penais.
4. O que as empresas devem fazer para se adaptar?
A nova LGPD estava prevista para entrar em vigor no mês de agosto deste ano. Contudo, foi adiada para maio de 2021, após o Governo editar a Medida Provisória (MP) nº 959 que trata da operacionalização do pagamento do Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda, e adiamento da Lei nº 13.709, que estipula a LGPD. Dessa forma, as instituições terão até o ano que vem para se adaptar. Uma pesquisa realizada pela consultoria de riscos ICTS Protiviti, no final de 2019, apontou que 84% das empresas não estão preparadas para a implementação das novas regras.
Para se adequar à LGPD, será necessário mudar a cultura no que diz respeito à gestão dos arquivos, contratação de especialistas e investimento em segurança da informação. Entre as exigências da LGPD está a criação do cargo de DPO (sigla em inglês para Data Protection Officer), um profissional que deve ficar inteiramente responsável pela segurança dos dados (de funcionários, indivíduos de fora da organização ou ambos). A lei não especifica a formação, porém deve ser alguém com conhecimentos em leis e na área de TI. Uma das atribuições desse profissional será prestar contas à ANPD com o envio de relatórios sobre os impactos da proteção dos dados.
Lei exige criação do cargo Data Protection Officer, profissional responsável pela segurança dos dados — Foto: Divulgação/Unsplash (Amy Hirschi)
É recomendável que a empresa faça um mapeamento e documentação dos dados que já possui e classifique essas informações. É importante, por exemplo, verificar se estão armazenados de maneira segura, se foram coletadas mediante consentimento e para qual finalidade. Além disso, aos funcionários que lidam com dados de pessoas e clientes devem assegurar o sigilo das informações seguindo boas práticas de segurança da informação.
5. A LGPD aumenta demanda por profissionais de TI?
Os profissionais de TI representam uma peça-chave no processo de adequação das empresas à LGPD porque são eles que, geralmente, já cuidam dos dados armazenados na nuvem ou em servidores das empresas. Também são os responsáveis por monitorar riscos de ataques virtuais e por tornar eficiente todas as operações de tecnologia. De acordo com a LGPD, obrigatoriamente, todos os dados terão de ser criptografados para que, em caso de vazamento, não possam ser lidos por terceiros.
Profissionais de TI serão cada vez mais necessários após implementação da LGPD — Foto: Divulgação/Unsplash (by Pakata Goh)
Com a implantação da lei, a tendência é que haja maior investimento em soluções como VPN e dispositivos de firewall — ou outras opções de conexão e armazenamento seguro —, que já são utilizados por muitas empresas e que são administrados pela equipe de TI. Outra atribuição dessa área que será essencial para os gestores é o conhecimento em boas práticas de segurança e de processamento de dados confidenciais. Uma dica para quem está nesse mercado é buscar cursos de atualização e certificações.
A oferta movimentou R$ 1,1 bilhão em sua oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) e a startup estreia com um valor de mercado de R$ 2 bilhões
Nascido como um blog em 2009, pelo qual eram vendidas roupas usadas a amigos, num modelo de brechó virtual, a startup Enjoei.com engatou sua história com investidores na pegada da “economia circular”, um importante pilar quando se trata de sustentabilidade. A oferta movimentou R$ 1,1 bilhão em sua oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) e a startup estreia com um valor de mercado de R$ 2 bilhões. O debute da ação na B3, batizada de “Enju”, está marcada para a próxima segunda-feira, dia 09.
A ação foi precificada na oferta em R$ 10,25, piso da faixa indicativa de preço. Segundo uma fonte, a demanda superou em três vezes a oferta, exatamente quando outras empresas estão postergando operações, diante da seletividade do mercado.Fundada por Ana Luiza McLaren e Tiê de Lima, a Enjoei nasceu em forma de blog, por meio do qual o casal usava para vender roupas usadas próprias e de amigos, como um brechó virtual.
Desde o início, adotava uma linguagem próxima e bem-humorada, o que foi mantido ao longo dos anos. Hoje, a Enjoei.com traz como grande atrativo, especialmente ao público jovem, além da linguagem, muitas lojas de famosos. E se antes se vendia apenas peças de roupas usadas, hoje em dia é um grande marketplace que se vende de tudo (de segunda mão, é claro). Ventiladores, peças dignas de um antiquário, livros, videogames (dos mais novos ao saudosista Atari).
Enfim, tudo dos recursos que irão ao caixa da empresa, R$ 618,84 milhões, o objetivo é utilizá-los para a expansão da marca e da base de usuários da Companhia, investimentos em políticas comerciais com foco em melhoria de conversão e recorrência, expansão do time para desenvolvimento do produto e soluções fintech.”No Enjoei os usuários podem comprar e vender através de uma plataforma que inspira o engajamento e a descoberta. Nossa plataforma é comparável a navegar em uma rede social, com o benefício de estimular a oferta de produtos entre usuários.
A compra e venda acontecem com segurança e facilidade, uma vez que todos os produtos e todas as pessoas estão conectadas pelas nossas soluções de oferta, entrega e pagamento. Além disso, destinamos a cada cliente um espaço exclusivo onde ele pode criar a sua “lojinha” e oferecer os itens a amigos e outros usuários da plataforma. Desde o lançamento do Enjoei até 30 de junho de 2020, conectamos 1,5 milhão de compradores com 1,9 milhão de vendedores em nossa plataforma”, segundo o prospecto da oferta.Foram coordenadores da oferta os bancos BTG Pactual, Bradesco BBI, JPMorgan, XP E UBS.
Necessidade de todo empreendedor, a inovação é um fenômeno da economia a partir do qual a humanidade tem transformado sua relação com a realidade. Considere, por exemplo, a nossa condição atual.
Podemos acompanhar um importante julgamento da mais alta corte americana e, simultaneamente, um concerto em Tóquio — de pijamas, sem sair da cama!
É evidente que isso é resultado dos esforços humanos em refinar a tecnologia e os processos de produção que já existem. Mas por que fazer isso? Afinal, se nós pensarmos em um mercado estável, a simples manutenção produtiva é suficiente para atender qualquer demanda, não é?
Bem, não exatamente.
A dinâmica do mercado não é simples, e os múltiplos fatores que se traduzem em ação humana são matéria de uma disciplina muito robusta.
Por exemplo: o crescimento populacional no mundo é apenas um dos elementos importantes de se avaliar antes de investigarmos progressos. Em outras palavras, as demandas, no mínimo, variam.
Portanto, aparentemente, a estabilidade econômica é impossível. Contudo, se quiséssemos saber de onde surge a inovação, poderíamos considerar uma estabilidade hipotética. Assim, pense, por exemplo, em uma indústria produtora de arroz. A demanda é estável, a produção atende à necessidade dos consumidores e ambas as partes subsistem nessa relação.
Nesse cenário, por que inovar, isto é, por que criar qualquer alteração dessa dinâmica, se ela é aparentemente perfeita?
Não há razões, e está claro.
Apenas uma coisa criaria necessidade de transformação: uma falta.
Assim, se falta algo, isso significa que a estrutura é imperfeita, o que dá origem a emergência de novos padrões.
Seria isso inovação?
Neste artigo, você vai entender o que há de mais importante sobre esse conceito fundamental do mercado.
Vamos abordar teorias, exemplos, a relação da inovação com a tecnologia e como qualquer empreendedor pode se valer dessas informações para inovar em seus negócios. Acompanhe a leitura e confira!
O que é inovação nas organizações
Vale reforçar o que já dissemos: a estrutura do mercado não é simples. São muitos os detalhes que merecem atenção para que possamos descobrir coisas significativas sobre qualquer uma das manifestações da economia. Uma dessas manifestações é a inovação, fenômeno por meio do qual toda a rotina humana se torna mais prática, veloz e impactante.
Assim, se quisermos descobrir o que é inovação nas organizações, primeiro precisamos entender qual a função de uma organização na sociedade. Desse modo, é possível compreendermos por que ela evolui, e então ficará claro que ela só evolui porque inova. Acompanhe a seguir uma observação objetiva sobre alguns fatos da nossa economia.
O papel das organizações na sociedade de mercado
Uma empresa existe, necessariamente, na condição de concentradora de recursos humanos, a fim de promover soluções ao mercado. Isso significa que empreender é resolver problemas, correto? Portanto, é necessário que haja problemas a serem resolvidos para que as organizações tenham espaço no sistema econômico.
Uma vez que uma empresa se mostra capaz de resolver um problema comum, ela então encontra uma estabilidade transitória. Tal estabilidade está na sua capacidade de satisfazer continuamente uma necessidade. Isso quer dizer, portanto, que, se a solução for definitiva e a demanda for pequena, essa estabilidade tem curta duração e a empresa perde utilidade.
A estabilidade de um sistema aparentemente só pode ser perturbada por uma presença exterior. O sistema, em si mesmo, não pode produzir suas próprias necessidades. Afinal, ele só existe para atendê-las, não para provocá-las. No entanto, dada a atual configuração econômica, todo sistema nasce necessariamente defasado, com prazo de validade.
Aqui temos um fator fundamental para entendermos não apenas como surge a necessidade de inovação, mas também como, de modo geral, opera nossa sociedade de mercado. Nenhuma empresa nasce para acabar em alguns anos. Do contrário, toda empresa tem, implicitamente, o desafio da auto permanência.
Nesse caso, a fim de se manter competitivo, todo empreendedor precisa eventualmente se deparar com as perguntas “que problema meu negócio busca resolver?”, “por quanto tempo meu negócio pode resolver esse problema?” e “como escalar a solução do meu negócio?”
Essa investigação é suficiente para dar maior noção ao empreendedor sobre o potencial lucrativo de sua empresa. Isso porque qualquer solução surge invariavelmente com o pressuposto de que deve ser superada, e qualquer empresa que busca longevidade precisa estar atenta a esse fato. Mas por que é assim?
Como surgem novas demandas
Vamos voltar ao exemplo da indústria produtora de arroz. Se sua estrutura é hipoteticamente perfeita, por que então alterá-la, ou seja, para que inovar? A resposta está em um fato notável: mercados e organizações são meios humanos! E como sabemos, tudo nesse meio é transitório, inclusive condições perfeitas para satisfação de demandas.
Sendo assim, se, por qualquer razão, alguém dentro desse sistema supostamente perfeito pensasse “como podemos produzir mais no mesmo espaço de tempo?”, imediatamente teríamos um novo problema a ser resolvido. Afinal, por meio dessa observação, percebe-se que falta algo — nesse caso, agilidade.
O sucesso global do app chinês TikTok colocou os EUA na posição em que a maioria dos países havia sido colocada por Facebook, Twitter, Instagram e Google: dados de milhões de seus cidadãos nas mãos de uma empresa estrangeira. Ao mesmo tempo, a adoção de equipamentos de 5G da chinesa Huawei é apontada pelos americanos como um risco à privacidade e segurança de países ocidentais. O novo episódio do podcast Big Data Venia discute o papel da tecnologia na disputa geopolítica entre os dois países. E como o Brasil (e cada usuário) pode ser afetado.
Assista no YouTube:
Enquanto a atuação das empresas chinesas no Ocidente desperta novos debates e pressão política, as concessões das empresas ocidentais para operarem na China continuam sendo uma premissa para entrar em um mercado cobiçado. Até que ponto essas concessões são apenas negócios?
As tensões ficaram mais evidentes com a ascensão da inovação chinesa. Enquanto era apenas um mercado interno crescente e a “fábrica do mundo”, produzindo a custo baixo produtos desenvolvidos nos EUA e Europa, a China era uma parceira conveniente para as grandes empresas ocidentais.
Quando começou a tomar a dianteira no desenvolvimento de tecnologia crítica, como o 5G, a disputa mudou de patamar. Trata-se agora de disputa de mercados e de posicionamento estratégico.
E, dos dois lados, a segurança nacional é o discurso comum de bloqueio à ações do outro. No Big Data Venia desta semana, os convidados discutem o jogo geopolítico e a posição do Brasil. Sendo mercado para os apps americanos e chineses e precisando definir sua tecnologia de 5G, qual o melhor caminho para o país? E com as evidências de uso inadequado dos dados dos usuários das grandes redes ocidentais, é preciso temer mais o TikTok?
O Marketing Experiencial aumenta o engajamento e melhora o alcance orgânico da marca por meio de experiências valiosas . Saiba como!
Experiência. Já há algum tempo, esse é o segredo por trás de toda campanha de marketing de sucesso.
Sua importância é fácil de entender: consumidores modernos, cada vez mais acostumados a processos de compra rápidos e eficientes, preferem marcas que oferecem as melhores experiências de conteúdo.
Assim, é possível estabelecer conexões fortes e duradouras, ampliando o alcance da marca por meio de recomendações e feedbacks positivos.
Nesse cenário, não é mais suficiente contar com produtos e serviços de qualidade. O necessário, hoje, é adotar uma estratégia com foco no Marketing Experiencial.
Mas o que esse conceito quer dizer? Será que essa abordagem pode realmente trazer benefícios significativos para a sua empresa? Neste conteúdo, você vai ver:
Marketing Experiencial é uma estratégia que tem como objetivo o engajamento do consumidor por meio de experiências com a marca.
A ideia é focar o prazer da buyer persona, gerando um sentimento positivo em relação à marca. Nesse contexto, os produtos e serviços oferecidos são secundários.
Uma campanha que use esse tipo de marketing pode tomar formas diversas. Em eventos, por exemplo, esse conceito é somado ao de live experience, que representa uma abordagem bastante interessante para a maximização do engajamento dos leads.
Dessa forma, uma ação de Marketing Experiencial pode envolver, por exemplo, uma visita virtual por um museu, embora ela não precise se limitar ao ambiente digital.
Você pode usar sua criatividade para criar vivências em locais estratégicos, como eventos esportivos, concertos, instalações artísticas etc.
As opções são diversas, e, neste conteúdo, vamos mostrar exemplos que demonstram isso. Independentemente de qual modelo você escolha, porém, há algumas questões que não podem ser desconsideradas.
A primeira é: a ação deve estimular a participação ativa e o engajamento do consumidor.
Em outras palavras, não faz sentido conduzir um evento que interesse à persona se ela o frequentar apenas como ouvinte. Assim, você deve fazer com que o público-alvo tenha a possibilidade de realmente sentir-se parte da experiência — mais ou menos como funciona com o marketing de interação.
Outro ponto fundamental é a promoção dos valores e das mensagens da marca. Como dissemos, produtos e serviços não têm tanto espaço nesse tipo de abordagem, mas a identidade profunda da marca deve ser trabalhada de forma ampla. A ideia é criar uma imagem duradoura e positiva nas mentes das pessoas.
Mais um aspecto que deve ser levado em consideração ao se pensar em Marketing Experiencial é o valor gerado no longo prazo. Muitas marcas desenvolvem campanhas lindas, mas malsucedidas, pois criam valor apenas de curto prazo.
Quais são os benefícios do Marketing Experiencial?
Sem dúvida, o maior benefício do Marketing Experiencial é o engajamento. Afinal, ele representa a produção de experiências interativas e de imersão, tornando mais natural e fluido o diálogo do lead com a marca.
Então, enquanto se entretém os consumidores, cria-se a oportunidade de transmitir a mensagem que você deseja com pouco ruído ou interferência. Isso é fundamental para lidar com o consumidor 4.0, cuja atenção é muito difícil de atrair e reter.
Outra característica desse público, conforme apontado pelo professor Philip Kotler em seu livro sobre marketing 4.0, é a tendência a dar e receber feedback, comentando sobre o negócio com amigos e influenciadores — o que é um dos principais canais para a geração de novas oportunidades.
Assim, se sua estratégia de Marketing Experiencial for sólida, ela vai transformar leads em consumidores satisfeitos e, consequentemente, ampliar o alcance de sua empresa de modo orgânico.
As vantagens disso não se limitam às métricas de marketing. As vendas, por exemplo, são diretamente impactadas por ações do tipo.
Os próprios consumidores confirmam isso. 74% deles dizem que engajar-se com campanhas de experiência amplia suas chances de realizar uma compra.
Portante, basicamente, três benefícios justificam o investimento nesse tipo de estratégia. O primeiro é o alto potencial de engajamento, que leva a melhores resultados tanto de marketing como de vendas.
O segundo é a geração de conexões duradouras. Já o terceiro é a possibilidade de expansão do alcance da marca sem a necessidade de investimento em publicidade.
Como grandes marcas estão usando o Marketing Experiencial em suas estratégias?
Agora você já sabe o que é Marketing Experiencial e entende seus principais benefícios. Mesmo assim, não há nada melhor para compreender um conceito por completo do que ver a sua aplicação.
É por isso que selecionamos alguns exemplos de campanhas de sucesso. Use-as como inspiração para criar suas próprias ideias!
Heineken
A Heineken é uma das empresas que atingiram a excelência na realização de campanhas de Marketing Experiencial.
Para isso, a cervejaria não hesita em usar o apelo de um de seus principais parceiros comerciais: a Liga dos Campeões da Europa, que é o torneio de futebol mais importante do continente.
Como patrocinadora do evento, a empresa já promoveu várias campanhas, como a transmissão pública dos jogos e surpresas para os fãs do esporte.
Com isso, ainda que sem mencionar seu produto de maneira direta, ela consegue relacionar o consumo de futebol com o consumo de Heineken, gerando gatilhos de compra.
Uma das ações mais significativas da Heineken em termos de experiência do consumidor foi a Heineken Experience, localizada em sua fábrica mais antiga, em Amsterdam. Na foto, repare em como o ambiente estimula a interação dos visitantes.
Sendo uma marca global, porém, é óbvio que suas ações não se restringem a seu país de origem. Um dos exemplos mais bem-sucedidos disso ocorreu em 2016 aqui no Brasil, como parte da ativação para a final da Liga dos Campeões da Europa.
Os alvos eram casais em um restaurante na cidade de São Paulo. Quando os homens recebiam o cardápio, liam uma mensagem que os convidava a assistir à partida em um espaço temático. Em troca, suas namoradas ganhariam um fim de semana em um spa.
Nomeada “O clichê”, a campanha, que tem uma importante quebra de expectativa, também serviu para posicionar a Heineken como uma empresa contra estereótipos de gênero e preconceitos. Veja o vídeo abaixo para entender melhor:
Volkswagen
Também europeia, a Volkswagen é outro grande exemplo de sucesso no uso do Marketing Experiencial. Aqui, o mais curioso é que a ação nem menciona carros, o que causaria estranhamento, se fosse uma campanha de marketing mais tradicional.
Em vez de produtos ou serviços, a empresa decidiu focar algo que é comum e agrada a todos: a diversão. Assim nasceu “A Teoria da Diversão”.
De acordo com a empresa alemã, a ideia era provar que as pessoas encontram mais motivação para mudar suas atitudes e tomar melhores decisões quando o processo é divertido.
Para isso, a Volkswagen instalou um piano gigante nas escadas comuns de uma estação de metrô em Estocolmo, que ficavam ao lado de uma escada rolante.
A ideia, claro, era encorajar as pessoas a economizar energia e priorizar atividades físicas. Ao pisar os degraus transformados em teclas, elas subiam a escada escutando suas próprias notas.
Sem sombra de dúvida, as pessoas que passaram por ali tiveram uma experiência única e memorável, mas será que essa ação teve relevância para o público em geral?
Sim, pois a Volkswagen sabia o que estava fazendo. Todas as intervenções foram gravadas e transformadas em vídeos que rapidamente viralizaram, tornando a ação muito famosa na internet.
Red Bull
O exemplo da Red Bull que separamos para esta lista é muito emblemático, por ser uma das ações mais inovadoras já realizadas sob a lógica do Marketing Experiencial. Além disso, este é um exemplo de campanha exclusivamente online, transmitida ao vivo por streaming.
O projeto girou em torno de Felix Baumgartner, um paraquedista de coragem, energia e paixão pelos esportes radicais, conceitos que têm tudo a ver com a identidade da Red Bull.
A ideia, então, não era nada menos do que quebrar o recorde mundial de queda livre ao saltar desde a estratosfera, a uma altura de 39 quilômetros do solo. Felix também se tornou a primeira pessoa a ultrapassar a velocidade do som sem a ajuda de um motor.
Muito aguardado, mais de 8 milhões de pessoas assistiram ao evento ao vivo, todas ansiosas para saber o resultado da aventura. Com o sucesso do pouso, o público celebrou e, certamente, associou a marca a um sentimento extremamente positivo.
Além disso, é claro, o vasto material em vídeo e fotos poderia ser usado para novos propósitos, gerando ainda mais conteúdo para a Red Bull, como no vídeo abaixo
Se você deseja manter conexões lucrativas e duradouras com seus clientes, é a hora de começar a pensar no Marketing Experiencial como um elemento-chave para a sua estratégia.
Além de otimizar o engajamento e facilitar a conversão dos leads, esse tipo de campanha gera autoridade para a marca e abre espaço para novas oportunidades.
O Sistema Único de Saúde (SUS) é um dos maiores e mais complexos sistemas de saúde pública do mundo, abrangendo desde o simples atendimento para avaliação da pressão arterial, por meio da Atenção Primária, até o transplante de órgãos, garantindo acesso integral, universal e gratuito para toda a população do país. Com a sua criação, o SUS proporcionou o acesso universal ao sistema público de saúde, sem discriminação. A atenção integral à saúde, e não somente aos cuidados assistenciais, passou a ser um direito de todos os brasileiros, desde a gestação e por toda a vida, com foco na saúde com qualidade de vida, visando a prevenção e a promoção da saúde.
A gestão das ações e dos serviços de saúde deve ser solidária e participativa entre os três entes da Federação: a União, os Estados e os municípios. A rede que compõe o SUS é ampla e abrange tanto ações quanto os serviços de saúde. Engloba a atenção primária, média e alta complexidades, os serviços urgência e emergência, a atenção hospitalar, as ações e serviços das vigilâncias epidemiológica, sanitária e ambiental e assistência farmacêutica.
AVANÇO: Conforme a Constituição Federal de 1988 (CF-88), a “Saúde é direito de todos e dever do Estado”. No período anterior a CF-88, o sistema público de saúde prestava assistência apenas aos trabalhadores vinculados à Previdência Social, aproximadamente 30 milhões de pessoas com acesso aos serviços hospitalares, cabendo o atendimento aos demais cidadãos às entidades filantrópicas.
Estrutura do Sistema Único de Saúde (SUS)
O Sistema Único de Saúde (SUS) é composto pelo Ministério da Saúde, Estados e Municípios, conforme determina a Constituição Federal. Cada ente tem suas co-responsabilidades.
Ministério da Saúde
Gestor nacional do SUS, formula, normatiza, fiscaliza, monitora e avalia políticas e ações, em articulação com o Conselho Nacional de Saúde. Atua no âmbito da Comissão Intergestores Tripartite (CIT) para pactuar o Plano Nacional de Saúde. Integram sua estrutura: Fiocruz, Funasa, Anvisa, ANS, Hemobrás, Inca, Into e oito hospitais federais.
Secretaria Estadual de Saúde (SES)
Participa da formulação das políticas e ações de saúde, presta apoio aos municípios em articulação com o conselho estadual e participa da Comissão Intergestores Bipartite (CIB) para aprovar e implementar o plano estadual de saúde.
Secretaria Municipal de Saúde (SMS)
Planeja, organiza, controla, avalia e executa as ações e serviços de saúde em articulação com o conselho municipal e a esfera estadual para aprovar e implantar o plano municipal de saúde.
Conselhos de Saúde
O Conselho de Saúde, no âmbito de atuação (Nacional, Estadual ou Municipal), em caráter permanente e deliberativo, órgão colegiado composto por representantes do governo, prestadores de serviço, profissionais de saúde e usuários, atua na formulação de estratégias e no controle da execução da política de saúde na instância correspondente, inclusive nos aspectos econômicos e financeiros, cujas decisões serão homologadas pelo chefe do poder legalmente constituído em cada esfera do governo.
Cabe a cada Conselho de Saúde definir o número de membros, que obedecerá a seguinte composição: 50% de entidades e movimentos representativos de usuários; 25% de entidades representativas dos trabalhadores da área de saúde e 25% de representação de governo e prestadores de serviços privados conveniados, ou sem fins lucrativos.
Comissão Intergestores Tripartite (CIT)
Foro de negociação e pactuação entre gestores federal, estadual e municipal, quanto aos aspectos operacionais do SUS
Comissão Intergestores Bipartite (CIB)
Foro de negociação e pactuação entre gestores estadual e municipais, quanto aos aspectos operacionais do SUS
Conselho Nacional de Secretário da Saúde (Conass)
Entidade representativa dos entes estaduais e do Distrito Federal na CIT para tratar de matérias referentes à saúde
Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems)
Entidade representativa dos entes municipais na CIT para tratar de matérias referentes à saúde
Conselhos de Secretarias Municipais de Saúde (Cosems)
São reconhecidos como entidades que representam os entes municipais, no âmbito estadual, para tratar de matérias referentes à saúde, desde que vinculados institucionalmente ao Conasems, na forma que dispuserem seus estatutos.
Princípios do Sistema Único de Saúde (SUS)
Universalização: a saúde é um direito de cidadania de todas as pessoas e cabe ao Estado assegurar este direito, sendo que o acesso às ações e serviços deve ser garantido a todas as pessoas, independentemente de sexo, raça, ocupação ou outras características sociais ou pessoais.
Equidade: o objetivo desse princípio é diminuir desigualdades. Apesar de todas as pessoas possuírem direito aos serviços, as pessoas não são iguais e, por isso, têm necessidades distintas. Em outras palavras, equidade significa tratar desigualmente os desiguais, investindo mais onde a carência é maior.
Integralidade: este princípio considera as pessoas como um todo, atendendo a todas as suas necessidades. Para isso, é importante a integração de ações, incluindo a promoção da saúde, a prevenção de doenças, o tratamento e a reabilitação. Juntamente, o princípio de integralidade pressupõe a articulação da saúde com outras políticas públicas, para assegurar uma atuação intersetorial entre as diferentes áreas que tenham repercussão na saúde e qualidade de vida dos indivíduos.
Princípios Organizativos
Regionalização e Hierarquização: os serviços devem ser organizados em níveis crescentes de complexidade, circunscritos a uma determinada área geográfica, planejados a partir de critérios epidemiológicos e com definição e conhecimento da população a ser atendida.
A regionalização é um processo de articulação entre os serviços que já existem, visando o comando unificado dos mesmos.
Já a hierarquização deve proceder à divisão de níveis de atenção e garantir formas de acesso a serviços que façam parte da complexidade requerida pelo caso, nos limites dos recursos disponíveis numa dada região.
Descentralização e Comando Único: descentralizar é redistribuir poder e responsabilidade entre os três níveis de governo. Com relação à saúde, descentralização objetiva prestar serviços com maior qualidade e garantir o controle e a fiscalização por parte dos cidadãos. No SUS, a responsabilidade pela saúde deve ser descentralizada até o município, ou seja, devem ser fornecidas ao município condições gerenciais, técnicas, administrativas e financeiras para exercer esta função. Para que valha o princípio da descentralização, existe a concepção constitucional do mando único, onde cada esfera de governo é autônoma e soberana nas suas decisões e atividades, respeitando os princípios gerais e a participação da sociedade.
Participação Popular: a sociedade deve participar no dia-a-dia do sistema. Para isto, devem ser criados os Conselhos e as Conferências de Saúde, que visam formular estratégias, controlar e avaliar a execução da política de saúde.
Responsabilidades dos entes que compõem o SUS
União
A gestão federal da saúde é realizada por meio do Ministério da Saúde. O governo federal é o principal financiador da rede pública de saúde. Historicamente, o Ministério da Saúde aplica metade de todos os recursos gastos no país em saúde pública em todo o Brasil, e estados e municípios, em geral, contribuem com a outra metade dos recursos. O Ministério da Saúde formula políticas nacionais de saúde, mas não realiza as ações. Para a realização dos projetos, depende de seus parceiros (estados, municípios, ONGs, fundações, empresas, etc.). Também tem a função de planejar, elabirar normas, avaliar e utilizar instrumentos para o controle do SUS.
Estados e Distrito Federal
Os estados possuem secretarias específicas para a gestão de saúde. O gestor estadual deve aplicar recursos próprios, inclusive nos municípios, e os repassados pela União. Além de ser um dos parceiros para a aplicação de políticas nacionais de saúde, o estado formula suas próprias políticas de saúde. Ele coordena e planeja o SUS em nível estadual, respeitando a normatização federal. Os gestores estaduais são responsáveis pela organização do atendimento à saúde em seu território.
Municípios
São responsáveis pela execução das ações e serviços de saúde no âmbito do seu território. O gestor municipal deve aplicar recursos próprios e os repassados pela União e pelo estado. O município formula suas próprias políticas de saúde e também é um dos parceiros para a aplicação de políticas nacionais e estaduais de saúde. Ele coordena e planeja o SUS em nível municipal, respeitando a normatização federal. Pode estabelecer parcerias com outros municípios para garantir o atendimento pleno de sua população, para procedimentos de complexidade que estejam acima daqueles que pode oferecer.
Carta dos direitos dos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS)
A “Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde” traz informações para que você conheça seus direitos na hora de procurar atendimento de saúde. Ela reúne os seis princípios básicos de cidadania que asseguram ao brasileiro o ingresso digno nos sistemas de saúde, seja ele público ou privado.
Todo cidadão tem direito ao acesso ordenado e organizado aos sistemas de saúde.
Todo cidadão tem direito a tratamento adequado e efetivo para seu problema.
Todo cidadão tem direito ao atendimento humanizado, acolhedor e livre de qualquer discriminação.
Todo cidadão tem direito a atendimento que respeite a sua pessoa, seus valores e seus direitos.
Todo cidadão também tem responsabilidades para que seu trata- mento aconteça da forma adequada.
Todo cidadão tem direito ao comprometimento dos gestores da saúde para que os princípios anteriores sejam cumpridos.
A Consumidor Moderno ouviu experts no assunto para entender os principais movimentos que irão nortear a sociedade e as relações de consumo nos próximos cinco anos. Confira
Com o surgimento de novas tecnologias, hábitos e costumes, acompanhar e se adaptar às mudanças que regem o comportamento das pessoas é fundamental para a sobrevivência de um negócio. “Manter-se informado sobre as tendências que prometem se tornar fortes nos próximos anos é vital para se certificar de que você fará as escolhas estratégicas, desenvolverá produtos e serviços adequados – e em tempo”, explica Iza Dezon, pesquisadora de tendências de comportamento e representante da consultoria Peclers Paris no Brasil.
Já a futurista Jaqueline Weigel, CEO da W Futurismo, explica que as organizações em geral já têm a inovação na pauta, mas apenas com a preocupação de manter o negócio que existe ou acompanhar a onda do momento. “No passado, ser maior era a grande qualidade. Hoje, no entanto, a qualidade está em ser ágil e rápido em todos os sentidos. Estar atento é o mínimo”, diz ela.
Para Jaqueline, olhar para fora do negócio com radares de busca é premissa para a continuidade. “Empresas com foco no mundo interno tendem a não entender o que o consumidor precisa, e é ele, hoje, quem decide que tipo de negócio continua e que tipo de negócio passará a ser dispensado até 2025”, insiste. Para a especialista, as empresas que antecipam futuros e fazem da ruptura uma vantagem competitiva na linha do tempo serão os grandes players do mercado.
“Por hora, falamos de inovação, e já não basta mais, porque a maioria dos negócios vem fazendo apenas inovação incremental, que é só uma resposta ao mercado em mudança. O assunto agora é transformação”, diz.
1. CIDADANIAPLANETÁRIA
Consumidores de diferentes partes do mundo desejam o mesmo: consumo consciente, empresas éticas, conveniência e personalização. Essa reorientação da nossa visão de mundo, na qual comunidades locais e globais se misturam, é chamada de cidadania planetária. Para Jaqueline, o segredo é pensar globalmente e agir localmente. “Esta tendência provoca o desenvolvimento de produtos e serviços com um padrão global (global standard), que precisarão estar em todos os mercados de forma similar, rápida e barata. Hoje, vemos empresas como Airbnb, Uber e WeWork olhando nessa direção. São pioneiras que inspiram vários outros negócios”, diz Jaqueline.
2. SOCIALSHAME
Consumir em excesso, comprar sem checar a origem, trabalhar demais, fumar, beber e dirigir e usar plástico estão entre os comportamentos considerados hoje cafonas. E isso faz com que as empresas que vendem produtos para esses públicos revejam seus modelos para que não sigam perdendo mercado. Há, também, o movimento dos consumidores que se organizam em tribos e geram oportunidades para a criação e o crescimento de negócios até então marginalizados ou de acesso restrito, como produtos naturais, orgânicos e veganos.
“O impacto da tendência envolve a diminuição ou até a extinção de negócios nocivos, a revisão de produtos e de processos e a pilotagem de negócios que deixam de vender um item e criam algo muito mais adequado, seja no mesmo segmento, seja em outro. Já vemos negócios caminhando neste sentido, como as boutiques orgânicas, que ampliam seu portfólio com produtos, restaurante e serviços de entrega em casa”, diz Jaqueline.
3. PÓS-HUMANIZAÇÃO
“O novo ser do planeta transcende e não aceita mais o que chamávamos de ‘normal’. Ele é questionador, integrativo, informado, holístico. Não é mais razoável manter uma vida em torno de si mesmo sem pensar nos impactos de tudo na sociedade e no planeta em que vivemos. Estamos em um processo de libertação de qualquer status quo ou padrão, que nos aprisiona em idade, sexo, cor, religião ou nacionalidade”, diz Jaqueline. Segundo ela, o “novo humano” vive bem sozinho; medita; se alimenta bem e precisa consumir produtos e serviços que vão até ele, de forma fácil e acessível.
“O novo ser do planeta transcende e não aceita mais o que chamávamos de ‘normal’. Ele é questionador, integrativo, informado, holístico. Não é mais razoável manter uma vida em torno de si mesmo sem pensar nos impactos de tudo na sociedade e no planeta em que vivemos. Estamos em um processo de libertação de qualquer status quo ou padrão, que nos aprisiona em idade, sexo, cor, religião ou nacionalidade“
“Tudo que faz a vida ficar simples, higiênica em termos éticos e permita tempo pessoal livre e conforto”, diz Jaqueline, a qual ressalta que nunca antes tantas pessoas buscaram desenvolvimento espiritual, ética, consciência e meditação como hoje. “Por isso, tende a ganhar força a procura por produtos pensados de forma interativa. Os negócios devem dar atenção ao fato de que agora ‘ser’ é mais importante do que ‘ter’, e que cada vez mais as pessoas vão se ver livres de amarras financeiras. Nos próximos anos, tudo o que puder ajudar as pessoas a transcender será de grande valor”.
4. LONGEVIDADE
O envelhecimento da população brasileira está aceleradíssimo. E, para Iza Dezon, quem deixar de olhar para essa parcela da população e não se adequar a esse processo não só perderá oportunidade de conquistar esse mercado crescente como acabará praticando o preconceito do “idatismo”. “A longevidade vai impactar a forma como olhamos para nós mesmos e como lidamos com o coletivo. Mas ela vai afetar principalmente a maneira como a gente oferece produtos e serviços, e em todos os sentidos. A tendência vai motivar discussões e impactar soluções voltadas à ergonomia, à acessibilidade e à empatia. Algumas empresas já estão voltando seu olhar à longevidade e traçando uma estratégia completa, que integra produto, serviço, comunicação e política interna. A Natura, por exemplo, já vem abordando a questão da longevidade, assim como a L’Oréal (que recentemente ganhou, inclusive, um prêmio em Cannes) e a Vodafone”, cita Iza.
5. HIPERECOLOGIA
A degradação do planeta é real, tangível, e o consumidor está finalmente percebendo as consequências disso. Portanto, nos próximos anos, será necessário ir além da transformação dos nossos hábitos cotidianos e entender que as mudanças para um futuro mais verde precisam ser estruturais e industriais; ou seja, devem acontecer em profundidade e em grande escala.
“A tendência da hiperecologia vai provocar o comprometimento de comunidades e envolver a coletividade de segmentos que não estão acostumados a trabalhar com seus concorrentes”. As escolhas do consumidor vão obrigar os fornecedores e as marcas a reagirem e a saírem do estado passivo, forçando-os a voltar seu olhar para essa necessidade.
“A ação Black Supermarket do Carrefour na França sobre a conscientização de alimentos orgânicos indicou o quanto a empresa, em nível global, está alinhada à tendência da hiperecologia. Além disso, notamos um forte movimento das grandes empresas que estão se unindo às startups para poder fazer essas mudanças”.
6. A REINVENÇÃODANARRATIVASOBRE O AFETO
A forma de abordar o amor, após movimentos como “chega de fiu-fiu, #metoo e ni una menos”, precisa ser repensada. “Nos próximos anos, a atenção deve se voltar à preocupação de como a gente vai se expressar, comunicar e retratar o amor e o afeto. O mundo inteiro despertou e reagiu em prol da segurança das mulheres, e essa bandeira tende a se manter cada vez mais firme. Trata-se, principalmente, de como a gente estabelece um diálogo mais amoroso, que não seja nem na situação de ataque nem na situação de vítima.
Esta mudança deve impactar, especialmente, as narrativas e como vamos retratar a mulher e a relação afetiva” diz Iza. Segundo ela, essa análise é fundamental para a sobrevivência de qualquer empresa e de qualquer sociedade.
“A tendência deve ganhar mais força daqui para a frente, mas já tenho notado um movimento muito interessante na Rede Globo, com programas que mostram como essa discussão é necessária e urgente, como em Segunda Chance, Toda Forma de Amor e na novela Amor de Mãe. Essa abordagem tem-se mostrado mais forte no universo sociocultural. Agora é hora de as marcas reagirem”, indica Iza.
7. HIPERPERSONALIZAÇÃO
Antes da internet, a referência de consumo era a mesma para todos. Ou seja, havia uma espécie de padronização dos desejos. Porém, com a ampliação dos canais de comunicação e de consumo, a busca pela individualização ganhou força. No contexto tecnológico atual e com a moeda de troca sendo o engajamento, o mercado busca cada vez mais informações para fornecer produtos e serviços personalizados.
Esse conhecimento vai além do histórico de navegação, de relacionamentos ou de consumo e deve, em breve, chegar até o nível genético. Empresas como a 23andMe e a FullDNA, por exemplo, fazem o mapeamento genético acessível, já trazendo informações valiosas, mas que em breve poderão desbloquear uma nova onda, com personalizações até medicinais.
8. ÉTICADIGITAL
“With great power comes great responsibility”. Diante de todas as mudanças que estão por vir, a confiança será um dos pilares estratégicos para a nova economia dos próximos anos. Com tantos dados disponíveis e com a abundância do poder computacional, Machine Learning e IA se tornam necessários nas estratégias digitais; afinal a utilização ética e transparente dos dados e dos insights gerados por eles gera confiança – palavra que deve pautar as relações de consumo daqui para frente.
9. PRESSÃOSUSTENTÁVEL
De acordo com a TrendWatching, a busca por um consumo mais sustentável está chegando a um momento crítico. E quais são as expectativas futuras? Uma mudança moral para os consumidores. Pois quando as alternativas ecológicas são tão disponíveis e acessíveis quanto as outras, não há razão para não optar por elas. Dê uma olhada em três momentos icônicos de consumo ecológico.
Em 2008, a Tesla lançou o Roadster, um supercarro elétrico de US$ 100.000. Status ecológico! Em 2016, a Adidas firmou parceria com a Parley for the Oceans para produzir uma linha de tênis de edição limitada feita de plástico oceânico reciclado, com uma edição de apenas 50 pares. Status ecológico! Também em 2016, o Momofuku Nishi de Nova York se torna o primeiro restaurante do mundo a oferecer “Impossible Burger”, que tem a aparência de carne, o sabor de carne, mas é feito a partir de plantas. Mais status ecológico!
10. INTELIGÊNCIAARTIFICIAL
As marcas estão assumindo um novo formato em meio ao avanço digital. Como prova disso, o ramo de influenciadores virtuais vem crescendo consideravelmente no mercado. Este ano, uma agência de notícias chinesa lançou sua segunda âncora virtual de notícias. Outro exemplo é a Lil Miquela, uma influenciadora virtual do Instagram, que estrelou ao lado da supermodelo Bella Hadid em uma campanha da Calvin Klein.
De acordo com a TrendWatching, no futuro os consumidores estarão mais atentos às marcas que se incorporam por meio de novos personagens e avatares virtuais, permitindo que eles habitem os canais digitais de maneiras mais ricas, imersivas e humanas. Cada vez mais os consumidores estão se acostumando a relacionamentos significativos com entidades movidas à Inteligência artificial, e esta tendência deve crescer cada vez mais.
Depois de duas edições com um foco na discussão em torno do tema monólitos e microsserviços (“A ascensão e queda dos microservices” e “A vez dos monólitos modulares”), a QTrends de agosto tem como tema os pipelines de streaming de dados, sistemas ETL modernos e data mesh (também chamado de malha de dados). Em nosso último relatório de tendências de Arquitetura e Design, publicado em abril de 2020, data mesh foi classificada como uma tecnologia inovadora, enquanto arquiteturas baseadas em eventos e streaming foram classificadas como tecnologias com maior adoção (early majority).
Em função da combinação do potencial de disrupção de como os dados são tratados e gerenciados, por exemplo com times de produtos tendo a posse e expondo dados por mecanismos self-service, e da evolução de abordagens das preparações de dados (data-wrangling) baseadas em stream, nós acreditamos que um real entendimento de padrões, anti-padrões e tecnologias emergentes relacionadas a esses assuntos são de extrema relevância para profissionais que trabalham com arquitetura de sistemas.
Um panorama
Do pooling ao streaming: a evolução da LaunchDarkly
Dawn Parzych, Developer Advocate na LauchDarkly, descreveu em um artigo recém publicado como a empresa evoluiu o sistema de gestão de feature flags utilizado por clientes de um arquitetura baseada em pooling para uma nova arquitetura baseada em streaming.
Para quem utiliza essa solução, os benefícios incluem um aumento na velocidade das mudanças de configurações e também um consumo menor na bateria de dispositivos móveis. Segundo a publicação, “com a nova abordagem, clientes conseguem ver rapidamente as atualizações quando uma feature flag é alterada e com um consumo de banda significativamente menor” e “conseguimos prolongar o tempo de uso das baterias de dispositivos móveis, uma que vez que não é mais necessário o consumo de tanta energia para a realização de poolings.”.
Tudo que você sempre quis saber sobre Apache Kafka mas não teve coragem de perguntar!
Em uma apresentação realizada na Big Data Conference Vilnius, Ricardo Ferreira explicou o que é o Apache Kafka e como essa solução se encaixa nos conceitos de sistemas distribuídos e processamento de stream. Ricardo também apresentou alguns casos de uso e padrões de design relacionados ao uso do Kafka.
Um dos pontos principais da palestra foi o fato de que o Apache Kafka pode ser encarado como uma plataforma de streaming distribuído. Ricardo disse que profissionais dificilmente entenderão o Kafka se pensarem na ferramenta como “só uma mensageria” e que “mensageria não tem persistência e, assim como bando de dados, possuem limites de escalabilidade”.
Registro de schemas do Amazon EventBridge disponível na AWS
Recentemente a Amazon anunciou a disponibilidade da funcionalidade de registro de schemas no serviço Amazon EventBridge. A proposta do registro de schemas do Amazon EventBridge é que de profissionais do desenvolvimento possam armazenar a estrutura – ou o schema – de eventos em um ponto central compartilhado e mapear essas estruturas em código Java, Python e Typescript. Com isso, fica possível a utilização desses eventos como objetos no código-fonte.
O anúncio dessa nova funcionalidade coloca o Amazon EventBridge como um grande competidor frente a outras soluções oferecidas por outras plataformas na nuvem. A Microsoft oferece o EventGrid que já está disponível desde o início de 2018 e já recebeu diversas atualizações, incluindo a construção de filtros avançados, regras para retentativas e suporte para o CloudEvents. Por outro lado, o serviço da Microsoft não contém a funcionalidade de registro de schemas.
Indo além, o mesmo é válido para o EveryBridge da Triggermesh. Esse integrador de eventos (event bus) é capaz de consumir eventos de diferentes fontes, fazendo com que profissionais do desenvolvimento possam utilizá-lo para a criação de funções servless que poderão ser executadas na maioria das plataformas na nuvem, bem como em soluções on-premise.
Melhorando o Apache Spark com GPUs e a biblioteca RAPIDS
A RAPIDS é um conjunto de bibliotecas e APIs open-source para a execução em GPUs de pipelines de data science e analytics de ponta a ponta, possibilitando um significativo aumento na velocidade de processamento, especialmente em grandes conjuntos de dados. Construída em cima da NVIDIA CUDA, a RAPIDS disponibiliza o paralelismo e todo o poder da velocidade da memória da GPU através de uma interface Python amigável e uma API que integra uma variedade de algoritmos de machine learning para a aceleração de pipelines de ponta a ponta.
Estudo de caso
Data Mesh, domínios orientados a dados e a construção de plataforma de dados por Zhamak Dehghani
Em um popular podcast produzido pelo InfoQ, o conceito de “data mesh” foi apresentado por Zhamak Dehghani, que é Principal Consultant e Porfolio Director na ThoughtWorks. A discussão incluiu as motivações para se tornar uma empresa guiada por dados (data-driven), os desafios para se adaptar plataformas legadas e rotinas ETL, e como fazer o design e implementar a próxima geração de plataforma de dados utilizando ideias do DDD e product thinking, além de alguns princípios modernos de plataformas, como processos e soluções self-service.
O começo da conversa foi marcado por Zhamak dizendo que se tornar uma empresa data-driven ainda é um dos principais objetivos estratégicos de muitas empresas. Ser capaz de rodar experimentos rapidamente e analisar os dados resultados desses experimentos de forma eficiente pode trazer uma grande vantagem competitiva para diversos negócios.
Há uma série de “modelos falhos de arquitetura” dentro das plataformas corporativas de dados existentes. Elas são centralizadas e construídas com monólitos. A construção dos pipelines de dados possui, geralmente, um grande acoplamento, o que significa que uma eventual alteração em um dado implicará em uma cascata de modificações ao longo de todo o pipeline. Além disso, a posse, o domínio dessas plataformas de dados é cheia de silos e hiper especializada.
A próxima geração de plataforma corporativas de dados necessitam de uma mudança de paradigma em direção à ubiquidade dos dados com um data mesh distribuído. Zhamak acredita que, ao invés dos dados navegarem de um domínio para um data lake ou uma plataforma central, cada domínio precisa armazenar e servir seus dados de uma forma facilmente consumível, em um estilo self-service.
Além disso, times responsáveis pelos dados de domínios precisam aplicar o product thinking aos conjuntos de dados providos por eles, também precisam considerar esses dados como seus produtos e quem consome essas informações, tais como profissionais da ciência de dados, do aprendizado de máquina e da engenharia de dados, como clientes.
Fazer uma comparação direta com o estágio de adoção de determinadas tecnologias e práticas no Brasil com regiões como a América do Norte e a Europa não é algo tão simples de ser feito. Nosso mercado, um tanto quanto conservador, faz com que assuntos como data mesh ainda nem ecoem por aqui, ao passo que streaming de dados já é algo que conseguimos escutar no contexto de algumas grandes empresas.
Você já ouviu falar na utilização de manual de atendimento ao cliente na advocacia? Em resumo, é um documento que aborda os principais pontos de dúvida do relacionamento do cliente com o advogado ou escritório e que visa esclarecer, desde já, como esse relacionamento irá funcionar.
O que é o manual do cliente na advocacia?
Eu sei que o nome “manual do cliente” remete a algo burocrático, como um manual de instruções ou um manual de treinamento. Mas comece afastando essa ideia.
A ideia de utilizar um manual de atendimento ao cliente na advocacia vem de um procedimento de escritórios norte-americanos, chamado de “onboarding process”. Esse termo pode ser traduzido como procedimento de entrada, e a ideia é padronizar todos os passos iniciais do cliente no escritório para evitar erros.
O que chamamos aqui de manual do cliente é uma parte desse procedimento. É o conjunto de informações essenciais ao cliente para ter um bom relacionamento com o escritório. Isso inclui: horário de atendimento, tempo de resposta, prazo para distribuir o processo, prazo para entregar o parecer, próximos passos, etc.
Essas informações podem ser entregues em diferentes formas, tais como no corpo de um e-mail, em um arquivo anexo, um vídeo, uma mensagem de WhatsApp… As probabilidades são inúmeras.
Benefícios do manual do cliente na advocacia
O ponto de mais conflitos entre advogados e clientes é no relacionamento, não é verdade?
Quantas vezes já ouvimos clientes falarem que outros advogados não atendem o telefone ou não dão informações de andamento aos clientes? Por outro lado, quantos advogados ouvimos reclamando de clientes que ligam fora da hora ou que pedem informações diariamente?
Esses conflitos decorrem de diferença de expectativas: o cliente tem uma expectativa diferente daquela do advogado.
Ao utilizar um manual de atendimento ao cliente na advocacia você diminui imensamente esses conflitos. Afinal, o material terá as informações específicas, escolhidas entre as que mais geram conflitos entre advogados e seus clientes.
O que adicionar em um manual do cliente?
O Manual do Cliente deve conter as principais informações que seu cliente necessita no relacionamento com o escritório.
Alguns exemplos são:
Quais são as formas e horários de contato?
Qual o tempo médio para você retornar os contatos?
Em quanto tempo você vai dar entrada na petição inicial do cliente?
Em quanto tempo você vai entregar o contrato ou parecer solicitado?
Como o cliente é comunicado das movimentações processuais?
Como ocorre a entrega de documentos?
Você também pode acrescentar outras informações que sejam de interesse dos clientes, ou que costumam gerar mais dúvidas entre eles. A ideia é colocar em um só lugar, com um único esforço, as principais informações para consulta.
O Manual do Cliente deve ter a cara do seu escritório, mesmo se o escritório for só você. Ele deve ter o seu estilo de comunicação e se integrar com a sua proposta de comunicação, falando diretamente com as personas escolhidas pelo seu escritório.
É importante também testar a forma mais efetiva para se comunicar com o seu cliente. Eu, por exemplo, envio as informações no corpo do e-mail, e não em um anexo, por ter notado ser mais efetivo assim para a minha clientela.
Modelo de manual do cliente na advocacia
Neste tópico, compartilho o meu modelo do manual de atendimento ao cliente na advocacia.
E já deixo um ponto de atenção aqui: tenha cuidado ao utilizá-lo. Ele está na minha voz, com a minha identidade e forma de me comunicar com os clientes – que é bem informal, como você vai notar. Se essa não for a sua forma de comunicação, não se preocupe: adapte o texto à sua escrita!
Então, minha dica é para que você acesse o material e ajuste à sua comunicação. No modelo já estão destacados os principais pontos de a serem ajustados, mas vale revisar todo o texto e adaptar à sua linguagem.
Como vimos, é importante ter um manual de atendimento ao cliente na advocacia para reduzir potenciais conflitos com clientes e equilibrar as expectativas das partes.
No entanto, o Manual do Cliente não precisa ser uma coisa burocrática e chata, e muito menos um passo que crie uma distância entre o escritório e o cliente. Pelo contrário, ele pode ser utilizado para aproximar ainda mais a relação entre o cliente e o advogado.
Teste algumas formas e textos e veja qual se aplica mais ao seu caso. Se precisar adicionar ou cortar alguma parte, vá em frente! O Manual do Cliente deve ser uma representação fiel do seu escritório e da sua filosofia de comunicação com o cliente.
Toda lista nasce incompleta. Essa que virá a seguir não foge à regra. Ela também não é definitiva – eu mesmo vou me arrepender dentro de alguns minutos depois de entregar essa lista ao Nexo por deixar de fora Sir Arthur Lewis e a dupla Esther Duflo e Abhijit Banerjee. Há economistas absolutamente fenomenais, como Paul Samuelson, que estão de fora da minha lista pelo simples fato de que seria impossível escolher um único livro seu: a obra completa têm rigorosamente o mesmo alto nível. Outros ficaram de fora pelo simples fato de eu não ter tido a chance de conhecer suas obras, mas apenas fontes secundárias ou relatos biográficos. Ah, a lista também não traz necessariamente os títulos mais famosos de seus autores.
Incompleta, não-definitiva e meio indie… que lista é essa, afinal? Bem, ela é apenas a minha lista de favoritos neste campo do qual sou apaixonado. Resultado do que li e do que estudei. Me diverti revisitando os livros e espero que ela seja tão agradável de ler como foi de escrever.
Investment in Human Capital: The Role of Education and Research
Theodore Schultz (The Free Press, 1971)
Desde sempre, a economia se preocupa com a formação de capital, sua taxação, a forma ótima de organização do Estado, o desemprego, os fatores condicionantes dos preços, as taxas de juros, a moeda. Ganhador do Nobel em 1979, foi Schultz quem, muito antes de ser modinha, chamou a atenção para o que ele (e Gary Becker) chamaram de “capital humano”. A escola, o ensino superior e o ensino técnico e profissionalizante aumentam nosso capital: ficamos mais produtivos. Em agregado, uma sociedade com pessoas mais produtivas é uma sociedade mais desenvolvida. Quando Schultz começou a falar em educação nesses termos, nos anos 1940, ninguém discutia o assunto. Mesmo nas duas décadas seguintes, enquanto ele aprimorava seu trabalho e chegava a prestigiosa função de chefe do departamento econômico da Universidade de Chicago, o tema ainda não “colava” entre os economistas.
Neste livro, escrito de forma direta ao ponto, Schultz consolida dados, fatos e teoria comprovando que melhores níveis de educação aumentam o bem-estar e a produtividade individual e coletiva. Sem crescimento do capital humano, os trabalhadores estariam condenados a tarefas árduas e basicamente manuais – e a riqueza ficaria ainda mais concentrada com os poucos detentores de imóveis. Para fechar, Schultz era um leitor voraz de literatura: que economista (ainda hoje!) seria capaz de amarram seu tema de pesquisa com William Faulkner?
Instituições, mudança institucional e desempenho econômico
Douglass C. North (Trad. Alexandre Morales, Três Estrelas, 2018)
Instituições importam. Mas a história, e a trajetória histórica das nações também. Neste curto, porém extraordinário livro, Douglass North, Nobel de 1993, traz estudos de casos (do teclado mais popular, modelo QWERTY, ao constitucionalismo ocidental) e amplo substrato literário para embasar seus achados teóricos. “O que acontece quando se impõe um conjunto de regras comum a duas sociedades diversas?” é uma das várias perguntas que North responde na obra originalmente publicada em 1990. Nesse sentido, ele ensina que instituições não podem ser tocadas, sentidas ou mensuradas, porque são constructos sociais. Mas elas cumprem um papel fundamental: são o fator determinante subjacente do desempenho das economias em longo prazo.
North também ensinou neste livro que é possível ser economista e saber escrever bem. Qualquer terráqueo que já tenha se aventurado por um artigo de um economista médio sabe do que estou falando. São raros os estudiosos da área que sabem comunicar adequadamente suas ideias, atingindo um público amplo e difuso (como Keynes sempre ensinou: é preciso sempre convencer as pessoas!). North é um dos que sabiam escrever realmente muito bem.
Nudge: Como tomar melhores decisões sobre saúde, dinheiro e felicidade
Richard Thaler e Cass Sunstein (Trad. Ângelo Lessa, Objetiva, 2019)
Em “Nudge”, o leitor encontra casos práticos de como pequenas alterações – institucionais, processuais, burocráticas – geraram alterações profundas nos cursos da história. A partir do desenho de incentivos que permitem dar um empurrão corretivo, a economia comportamental busca reduzir desperdício e otimizar rotinas e procedimentos. Vale principalmente para a administração pública, mas também para a vida cotidiana das pessoas. Foi um livro especialmente influente durante os anos Barack Obama nos EUA e ainda estava na moda quando estudei em Columbia (antes de Thaler ganhar o Nobel, em 2017). “Nudge” é uma verdadeira “joia”, disse outro Nobel de Economia, o psicólogo (pois é) Daniel Kahneman, cujo “Rápido e devagar” bem poderia estar nesta lista aqui…
Narrative Economics: How Stories Go Viral and Drive Major Economic Events
Robert J. Shiller (Princeton University Press, 2019)
Ter uma boa ideia basta? Bem, se você só dividi-la com seus amigos, não. Eu sei que em tempos de bolhas sociais, presidentes sectários e pregação para convertidos, a própria sugestão de buscar gente que pensa diferente e dialogar parece tão antiquada quanto telefone fixo. Mas no campo da política econômica, em países democráticos, essa ainda é a regra, felizmente. Nobel de 2013, Shiller trata de como são formadas as narrativas e por que elas importam, algo que sabemos desde Aristóteles. “Nós não sonhamos com equações e geometria. Nós sonhamos com histórias”, diz Shiller, que neste livro tão rico ainda envereda por neurociência, mercado financeiro e pesquisas com amplas bases de dados.
O preço da desigualdade
Joseph Stiglitz (Bertrand, 2012)
A pequena cidade de Gary, onde nasceu o Nobel de 2001, só existe porque foi fundada por uma megacompanhia privada do começo do século passado, a United States Steel Corporation. Quando perdeu interesse na produção local, a US Steel partiu e Gary ficou abandonada, com desemprego, pobreza, criminalidade e baixa autoestima generalizada. Stiglitz estudou economia tendo a infância sempre em mente: o mercado simplesmente livre não pode ser a resposta automática para tudo, como se fosse um dogma. Neste livro, Stiglitz aprofunda seus estudos sobre a desigualdade (antes do tema ganhar grande dimensão, dois anos mais tarde, com Thomas Piketty). A imbricada relação entre as elites financeiras e o Estado gera incentivos perversos, que concentram ainda mais a renda – menos impostos para os mais ricos (pense em Trump pagando apenas 750 dólares de imposto de renda), caríssimo e complexo acesso a hospitais, educação desigual, intolerantes distorções étnicas. Stiglitz aponta para os riscos de turbulência política que essa desigualdade crescente em países ricos capitalistas poderia trazer (vide Brexit, Trump, Le Pen). E defende um modelo distinto, de redistribuição e novos incentivos em políticas públicas. Se você souber ler em inglês, a edição original está bem mais barata do que a tradução para o português, da lusitana Bertrand.
Estatísticas evidenciam as desigualdades raciais e têm alicerçado a adoção de ações afirmativas em muitos países, inclusive nas empresas. Não deveria ser diferente no Brasil
No dia 18 de setembro, o Magazine Luiza anunciou um programa de trainee exclusivo para profissionais negros. Imediatamente, criou-se uma enorme polêmica nas redes sociais. Entre os argumentos usados por alguns críticos, havia um velho conhecido dos estudiosos de relações raciais e da luta antirracista: a acusação de racismo reverso. Nas redes proliferaram perguntas como “e se o programa fosse voltado unicamente para jovens brancos?”.
Nossa posição é inequívoca: o Programa de Trainee 2021 do Magazine Luíza não é racista. Uma pesquisa do Instituto Ethos, de 2016, mostrava que os negros ocupam apenas 6,3% dos cargos de gerência e 4,7% dos postos de direção nas 500 maiores empresas do Brasil. Na época do levantamento, pretos e pardos correspondiam a 54,9% da população brasileira.
Os afro-americanos constituem cerca de 13% da população dos EUA e ocupam 9,4% dos cargos de direção nas 100 maiores companhias listadas pela revista Fortune, de acordo com informe do The Executive Leadership Council. Assim, para atingir uma representação de negros no mundo empresarial proporcionalmente próxima daquela encontrada nos Estados Unidos, o Brasil deveria contar com cerca de 40% de negros em postos de liderança empresarial, um percentual 8,5 vezes superior aos atuais 4,7%.
A julgar pelos dados do mundo empresarial, a desigualdade racial presente na nação que foi imaginada como uma democracia racial, um paraíso da convivência entre negros e brancos, é substancialmente maior do que a encontrada no país que, juntamente com a África do Sul, representaria o exemplo mais bem-acabado de sociedade racista. Eis uma verdade inconveniente para nós, brasileiros.
Estatísticas como essas evidenciam as desigualdades raciais e têm alicerçado a adoção de ações afirmativas em muitos países, inclusive nas empresas. Não deveria ser diferente no Brasil, país no qual o racismo se entranhou estruturalmente desde a origem colonial escravista e tem se reproduzido com permanências e mutações.
Racismo reverso? Só se nossa formação histórica tivesse sido diferente. Só se os negros tivessem, em algum período, controlado os aparatos político-militares e socioculturais, que os levassem a produzir uma economia baseada no trabalho não-remunerado de pessoas brancas, vendidas como mercadorias no tráfico transatlântico. E se, além de toda a brutalidade física, esses mesmos negros tivessem impetrado aos brancos, por meio de um sistema ideológico, uma violência simbólica equivalente àquela do racismo antinegro, que tentou incutir na população de pretos e pardos um sentimento de inferioridade intelectual e estética.
Há outro velho argumento que se articula à acusação de racismo reverso nesse imbróglio. A alegação de que não existem raças entre os seres humanos e que, portanto, programas como o do Magalu não têm cabimento.
Sabemos que a ideia de raça não possui fundamento científico desde os anos 1960, quando a biologia molecular e a genética das populações desmontaram as bases da raciologia, a pseudociência das raças fundada no século 18. Mas, as descobertas científicas não alteram necessária e imediatamente o imaginário social. “Não, a raça não existe. Sim, a raça existe. Certamente ela não é o que dizem que ela é, mas ela é, contudo, a mais tangível, real, brutal das realidades”, afirmou, em 1972, a socióloga francesa Colette Guillaumin.
Já o racismo moderno se esconde por detrás de noções como etnia, cultura e identidade. Mas a complexidade não se encerra aí. A ideia de racialização tem sido utilizada nos debates socioantropológicos para fazer referência ao que está em disputa em torno da ideia de raça.
RACISMO REVERSO? SÓ SE NOSSA FORMAÇÃO HISTÓRICA TIVESSE SIDO DIFERENTE
Nesse movimento procura-se enfrentar questões como: toda vez que essa ideia é mobilizada, o racismo está presente? E quando é acionada por um grupo que visa não inferiorizar um outro, mas se constituir como força política, reivindicar direitos que lhe foram negados, justamente por terem sido inferiorizados como uma raça? É adequado combater o racismo recorrendo ao vocabulário racial?
Elas não têm uma resposta simples. Mas, se todo racismo é uma forma de racialização, uma vez que recorre ao vocabulário racial, nem toda racialização pode ser taxada de racista simplesmente por lançar mão desse léxico.
Essa complexidade está na base da controvérsia em torno do Programa de Trainee do Magalu, que não é a única companhia a criar um programa desse tipo voltado para jovens negros. No mesmo dia em que seu programa foi anunciado, a multinacional Bayer divulgou uma ação muito semelhante. Tais iniciativas remontam ao início dos anos 2000, quando os principais bancos que operavam no Brasil, em razão de um complexo jogo político, iniciaram esse processo, conforme documentado no livro “Executivos negros: racismo e diversidade no mundo empresarial”.
Desde então, tal prática se disseminou para outros segmentos econômicos, como o da publicidade e o dos grandes escritórios de advocacia. Entre outros fatores, isso se deveu ao ativismo antirracista e aos Termos de Ajustamento de Conduta que vêm sendo pactuados entre empresas e o Ministério Público do Trabalho.
Gestores e lideranças empresariais não podem mais ignorar essa agenda. Ela não tem a abrangência das políticas públicas na promoção da equidade racial, mas são um alento. Permite-nos imaginar novos tempos, muito mais prósperos e justos.
Dentre as várias mudanças trazidas pela Reforma Administrativa, apresentada pelo Governo Federal por meio da Proposta de Emenda à Constituição n. 32/2020, destacam-se as alterações realizadas no texto do art. 37 da Constituição Federal, notadamente, a inclusão de novos princípios constitucionais da Administração Pública: imparcialidade, transparência, inovação, responsabilidade, unidade, coordenação, boa governança pública e subsidiariedade.
Da nova geração de princípios, entende-se que boa parte pode ser verificada como mera decorrência ou extensão dos princípios pretéritos – e.g. a imparcialidade como decorrência da impessoalidade, a transparência como decorrência da publicidade, a responsabilidade como decorrência da moralidade, a coordenação como decorrência da eficiência.
A mesma lógica derivativa, todavia, não é aplicável a todos os novos princípios, como é o caso da inovação. Para se ter melhor entendimento, é oportuna a remissão à Exposição de Motivos n. 47 do Ministério da Economia, que acompanha a Proposta de Emenda. No texto, verifica-se que o espírito do legislador, ao instituir o novo princípio, voltou-se a dirimir as “amarras inerentes à burocracia estatal”, em um novo contexto no qual “a inovação deve ser reconhecida, valorizada e almejada pela Administração e por seus agentes”.
Nota-se que o legislador atribuiu um caráter eminentemente programático á inovação, como algo que sempre deve ser almejado. Tal ideia é corroborada especialmente pela manifestação de que o estabelecimento da inovação como princípio servirá “como símbolo de uma nova era do Estado brasileiro, deixando para trás a mera conservação burocrática, que, desconectada dos tempos atuais, tem se revelado ineficiente para atender aos anseios do povo brasileiro”.
A inovação, sem sombra de dúvidas, é bem-vinda e deve ser estimulada no âmbito da Administração Pública, uma vez que procedimentos inovadores, em geral, trazem consigo economia de recursos e qualidade de resultado. Todavia, elevar tal preceito à categoria de princípio constitucional é, no mínimo, problemático.
Isso porque os princípios clássicos da Administração não podem ser relativizados ou entendidos como normas de meros efeitos dirigentes. Tais princípios vinculam todos os atos da Administração Pública,. Caso contrário, restaria desvirtuada a gestão dos negócios públicos e olvidado o que há de mais elementar para a boa guarda e zelo dos interesses sociais, como leciona Hely Lopes de Meirelles[1].
A vinculação irrestrita da Administração Pública à obediência dos princípios é verificada, com clareza, em matéria de controle dos atos administrativos. Segundo Maria Sylvia Zanella Di Pietro, a “finalidade do controle é a de assegurar que a Administração atue em consonância com os princípios que lhe são impostos pelo ordenamento jurídico, como os da legalidade, moralidade, finalidade pública, publicidade, motivação, impessoalidade”[2]. Tal controle constitui, inclusive, “poder-dever dos órgãos a que a lei atribui essa função, precisamente pela sua finalidade corretiva; ele não pode ser renunciado nem retardado, sob pena de responsabilidade de quem se omitiu”[3].
Em contornos práticos, a força normativa obrigatória dos princípios constitucionais da administração pode ser verificada no julgamento do Recurso Extraordinário n. 579.951/RN, em sede de Repercussão Geral, no qual o Supremo Tribunal Federal fixou a tese de que “a vedação ao nepotismo não exige a edição de lei formal para coibir a prática, dado que essa proibição decorre diretamente dos princípios contidos no art. 37, caput, da Constituição Federal”.
Os princípios constitucionais da administração têm, assim, caráter normativo autônomo, de modo que a mera violação é capaz de ensejar a ilegalidade do ato administrativo em concreto. É nesse ponto, portanto, que se verifica a problemática envolvida na inclusão da inovação no rol do art. 37 da Constituição Federal.
Em primeiro lugar, é evidente a contradição do legislador que eleva a inovação ao patamar de princípio constitucional da administração, mas a define como mero “símbolo de uma nova era” e algo que “deve ser almejado”. A atribuição de caráter meramente diretivo ao novo preceito viola a própria razão de ser dos princípios da administração pública, posto seu caráter vinculante e obrigatório.
Vale dizer que tal contradição se converte em verdadeira desnecessidade, ao se considerar que já existe norma constitucional de caráter programático que faz direta menção ao dever do estado de formar e fortalecer a inovação nos entes públicos[4].
Em segundo lugar, cumpre mencionar que, para uma vasta gama de atos administrativos, principalmente aqueles de procedimento tipificado, uma postura “inovadora” pode ser interpretada como algo indesejável. É o caso de atos como de concessão de aposentadoria, exoneração, publicação de edital de licitação, entre outros. A inovação no âmbito de tais atos administrativos, que possuem regras e procedimentos específicos, representariam, em verdade, um risco à segurança jurídica. Questiona-se, assim, se, de fato, uma inovação, necessariamente, importa num melhor ato administrativo.
Em terceiro lugar, caso seja atribuída força normativa ao princípio da inovação, seria necessário conceber a dicotomia entre atos inovadores – que estariam em conformidade com o preceito – e atos “não inovadores” – que estariam em desconformidade. Os atos administrativos “não inovadores” seriam, consequentemente, de inevitável anulação. Afinal, de igual modo, um ato administrativo que não atende ao princípio da legalidade deve anulado.
Em quarto lugar, destaca-se o caráter controvertido do conceito de “inovador”. Com efeito, princípios têm, por característica, a abstração, mas que se corporizam nas situações concretas, quando imbuídos por contextos sociais, culturais, éticos, morais, entre outros, que circunscrevem e permeiam o direito. No presente caso, há razoáveis dúvidas se este “símbolo de uma nova era” realmente emerge desse meio social ou de um mínimo debate público, ou se decorre, em verdade, de uma mera vontade governamental, o que parece ser o caso, dada a explícita motivação do legislador de algo que “deve ser almejado”.
Dessa feita, a inserção na carta política de uma “intenção”, “vontade”, na forma de princípio, descolada de contextos do meio social que de fato o compreendam como valor a ser perseguido, revela-se temerária, especialmente ante o alto risco de ensejar interpretações particularistas.
Diante dessa problemática, parece-nos que dois cenários poderiam ser traçados. No primeiro, permitir-se-ia uma relativização do princípio da inovação, aceitando-se o seu caráter meramente programático. A segunda alternativa seria considerar que há força normativa, com todas as ressalvadas já feitas, tal como os demais princípios constitucionais da administração. Em qualquer das hipóteses, verificam-se deficiências práticas.
Na primeira, há grande perigo de instabilidade jurídica. Uma vez que tal princípio fora elencado em grau paritário no rol do art. 37 da Constituição, aceitar sua relativização seria precedente para a relativização e enfraquecimento de todos os demais princípios, o que comprometeria todo o sistema jurídico de direito administrativo.
A segunda hipótese, por sua vez, somente poderia ser concebida com a criação de critérios objetivos para a classificação dos atos administrativos como inovadores ou “não inovadores”. É o que se fez necessário em experiência semelhante, na qual a jurisprudência pátria criou o controverso parâmetro do “homem médio” para que fosse atestada a conformação dos atos ao princípio da boa-fé objetiva – princípio com igual grau de subjetividade e abstração.
Da mesma maneira, seria necessário estabelecer balizas que possibilitassem a aplicação concreta do princípio da inovação aos atos administrativos, o que, novamente, coloca sob questão se seria o caso de elevar essa “intenção” ao nível de princípio, pela notória descaracterização da abstração que é essencial. Adicionalmente, ter-se-ia constante conflito com os supramencionados atos administrativos de procedimento estritamente tipificado, nos quais não cabe a adoção de uma postura inovadora por parte dos agentes.
Conclui-se, em última análise, que a atitude do legislador de elevar a inovação ao patamar de princípio constitucional da administração é, no mínimo, questionável. Caso os princípios da nova geração sejam, de fato, incorporados ao texto constitucional, vê-se o risco de que recairá em última instância ao poder judiciário delimitar o seu âmbito de aplicação.