Com o surgimento de novas tecnologias, hábitos e costumes, acompanhar e se adaptar às mudanças que regem o comportamento das pessoas é fundamental para a sobrevivência de um negócio. “Manter-se informado sobre as tendências que prometem se tornar fortes nos próximos anos é vital para se certificar de que você fará as escolhas estratégicas, desenvolverá produtos e serviços adequados – e em tempo”, explica Iza Dezon, pesquisadora de tendências de comportamento e representante da consultoria Peclers Paris no Brasil.
Já a futurista Jaqueline Weigel, CEO da W Futurismo, explica que as organizações em geral já têm a inovação na pauta, mas apenas com a preocupação de manter o negócio que existe ou acompanhar a onda do momento. “No passado, ser maior era a grande qualidade. Hoje, no entanto, a qualidade está em ser ágil e rápido em todos os sentidos. Estar atento é o mínimo”, diz ela.
Para Jaqueline, olhar para fora do negócio com radares de busca é premissa para a continuidade. “Empresas com foco no mundo interno tendem a não entender o que o consumidor precisa, e é ele, hoje, quem decide que tipo de negócio continua e que tipo de negócio passará a ser dispensado até 2025”, insiste. Para a especialista, as empresas que antecipam futuros e fazem da ruptura uma vantagem competitiva na linha do tempo serão os grandes players do mercado.
“Por hora, falamos de inovação, e já não basta mais, porque a maioria dos negócios vem fazendo apenas inovação incremental, que é só uma resposta ao mercado em mudança. O assunto agora é transformação”, diz.
1. CIDADANIA PLANETÁRIA
Consumidores de diferentes partes do mundo desejam o mesmo: consumo consciente, empresas éticas, conveniência e personalização. Essa reorientação da nossa visão de mundo, na qual comunidades locais e globais se misturam, é chamada de cidadania planetária. Para Jaqueline, o segredo é pensar globalmente e agir localmente. “Esta tendência provoca o desenvolvimento de produtos e serviços com um padrão global (global standard), que precisarão estar em todos os mercados de forma similar, rápida e barata. Hoje, vemos empresas como Airbnb, Uber e WeWork olhando nessa direção. São pioneiras que inspiram vários outros negócios”, diz Jaqueline.
2. SOCIAL SHAME
Consumir em excesso, comprar sem checar a origem, trabalhar demais, fumar, beber e dirigir e usar plástico estão entre os comportamentos considerados hoje cafonas. E isso faz com que as empresas que vendem produtos para esses públicos revejam seus modelos para que não sigam perdendo mercado. Há, também, o movimento dos consumidores que se organizam em tribos e geram oportunidades para a criação e o crescimento de negócios até então marginalizados ou de acesso restrito, como produtos naturais, orgânicos e veganos.
“O impacto da tendência envolve a diminuição ou até a extinção de negócios nocivos, a revisão de produtos e de processos e a pilotagem de negócios que deixam de vender um item e criam algo muito mais adequado, seja no mesmo segmento, seja em outro. Já vemos negócios caminhando neste sentido, como as boutiques orgânicas, que ampliam seu portfólio com produtos, restaurante e serviços de entrega em casa”, diz Jaqueline.
3. PÓS-HUMANIZAÇÃO
“O novo ser do planeta transcende e não aceita mais o que chamávamos de ‘normal’. Ele é questionador, integrativo, informado, holístico. Não é mais razoável manter uma vida em torno de si mesmo sem pensar nos impactos de tudo na sociedade e no planeta em que vivemos. Estamos em um processo de libertação de qualquer status quo ou padrão, que nos aprisiona em idade, sexo, cor, religião ou nacionalidade”, diz Jaqueline. Segundo ela, o “novo humano” vive bem sozinho; medita; se alimenta bem e precisa consumir produtos e serviços que vão até ele, de forma fácil e acessível.
“O novo ser do planeta transcende e não aceita mais o que chamávamos de ‘normal’. Ele é questionador, integrativo, informado, holístico. Não é mais razoável manter uma vida em torno de si mesmo sem pensar nos impactos de tudo na sociedade e no planeta em que vivemos. Estamos em um processo de libertação de qualquer status quo ou padrão, que nos aprisiona em idade, sexo, cor, religião ou nacionalidade“
“Tudo que faz a vida ficar simples, higiênica em termos éticos e permita tempo pessoal livre e conforto”, diz Jaqueline, a qual ressalta que nunca antes tantas pessoas buscaram desenvolvimento espiritual, ética, consciência e meditação como hoje. “Por isso, tende a ganhar força a procura por produtos pensados de forma interativa. Os negócios devem dar atenção ao fato de que agora ‘ser’ é mais importante do que ‘ter’, e que cada vez mais as pessoas vão se ver livres de amarras financeiras. Nos próximos anos, tudo o que puder ajudar as pessoas a transcender será de grande valor”.
4. LONGEVIDADE
O envelhecimento da população brasileira está aceleradíssimo. E, para Iza Dezon, quem deixar de olhar para essa parcela da população e não se adequar a esse processo não só perderá oportunidade de conquistar esse mercado crescente como acabará praticando o preconceito do “idatismo”. “A longevidade vai impactar a forma como olhamos para nós mesmos e como lidamos com o coletivo. Mas ela vai afetar principalmente a maneira como a gente oferece produtos e serviços, e em todos os sentidos. A tendência vai motivar discussões e impactar soluções voltadas à ergonomia, à acessibilidade e à empatia. Algumas empresas já estão voltando seu olhar à longevidade e traçando uma estratégia completa, que integra produto, serviço, comunicação e política interna. A Natura, por exemplo, já vem abordando a questão da longevidade, assim como a L’Oréal (que recentemente ganhou, inclusive, um prêmio em Cannes) e a Vodafone”, cita Iza.
5. HIPERECOLOGIA
A degradação do planeta é real, tangível, e o consumidor está finalmente percebendo as consequências disso. Portanto, nos próximos anos, será necessário ir além da transformação dos nossos hábitos cotidianos e entender que as mudanças para um futuro mais verde precisam ser estruturais e industriais; ou seja, devem acontecer em profundidade e em grande escala.
“A tendência da hiperecologia vai provocar o comprometimento de comunidades e envolver a coletividade de segmentos que não estão acostumados a trabalhar com seus concorrentes”. As escolhas do consumidor vão obrigar os fornecedores e as marcas a reagirem e a saírem do estado passivo, forçando-os a voltar seu olhar para essa necessidade.
“A ação Black Supermarket do Carrefour na França sobre a conscientização de alimentos orgânicos indicou o quanto a empresa, em nível global, está alinhada à tendência da hiperecologia. Além disso, notamos um forte movimento das grandes empresas que estão se unindo às startups para poder fazer essas mudanças”.
6. A REINVENÇÃO DA NARRATIVA SOBRE O AFETO
A forma de abordar o amor, após movimentos como “chega de fiu-fiu, #metoo e ni una menos”, precisa ser repensada. “Nos próximos anos, a atenção deve se voltar à preocupação de como a gente vai se expressar, comunicar e retratar o amor e o afeto. O mundo inteiro despertou e reagiu em prol da segurança das mulheres, e essa bandeira tende a se manter cada vez mais firme. Trata-se, principalmente, de como a gente estabelece um diálogo mais amoroso, que não seja nem na situação de ataque nem na situação de vítima.
Esta mudança deve impactar, especialmente, as narrativas e como vamos retratar a mulher e a relação afetiva” diz Iza. Segundo ela, essa análise é fundamental para a sobrevivência de qualquer empresa e de qualquer sociedade.
“A tendência deve ganhar mais força daqui para a frente, mas já tenho notado um movimento muito interessante na Rede Globo, com programas que mostram como essa discussão é necessária e urgente, como em Segunda Chance, Toda Forma de Amor e na novela Amor de Mãe. Essa abordagem tem-se mostrado mais forte no universo sociocultural. Agora é hora de as marcas reagirem”, indica Iza.
7. HIPERPERSONALIZAÇÃO
Antes da internet, a referência de consumo era a mesma para todos. Ou seja, havia uma espécie de padronização dos desejos. Porém, com a ampliação dos canais de comunicação e de consumo, a busca pela individualização ganhou força. No contexto tecnológico atual e com a moeda de troca sendo o engajamento, o mercado busca cada vez mais informações para fornecer produtos e serviços personalizados.
Esse conhecimento vai além do histórico de navegação, de relacionamentos ou de consumo e deve, em breve, chegar até o nível genético. Empresas como a 23andMe e a FullDNA, por exemplo, fazem o mapeamento genético acessível, já trazendo informações valiosas, mas que em breve poderão desbloquear uma nova onda, com personalizações até medicinais.
8. ÉTICA DIGITAL
“With great power comes great responsibility”. Diante de todas as mudanças que estão por vir, a confiança será um dos pilares estratégicos para a nova economia dos próximos anos. Com tantos dados disponíveis e com a abundância do poder computacional, Machine Learning e IA se tornam necessários nas estratégias digitais; afinal a utilização ética e transparente dos dados e dos insights gerados por eles gera confiança – palavra que deve pautar as relações de consumo daqui para frente.
9. PRESSÃO SUSTENTÁVEL
De acordo com a TrendWatching, a busca por um consumo mais sustentável está chegando a um momento crítico. E quais são as expectativas futuras? Uma mudança moral para os consumidores. Pois quando as alternativas ecológicas são tão disponíveis e acessíveis quanto as outras, não há razão para não optar por elas. Dê uma olhada em três momentos icônicos de consumo ecológico.
Em 2008, a Tesla lançou o Roadster, um supercarro elétrico de US$ 100.000. Status ecológico! Em 2016, a Adidas firmou parceria com a Parley for the Oceans para produzir uma linha de tênis de edição limitada feita de plástico oceânico reciclado, com uma edição de apenas 50 pares. Status ecológico! Também em 2016, o Momofuku Nishi de Nova York se torna o primeiro restaurante do mundo a oferecer “Impossible Burger”, que tem a aparência de carne, o sabor de carne, mas é feito a partir de plantas. Mais status ecológico!
10. INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
As marcas estão assumindo um novo formato em meio ao avanço digital. Como prova disso, o ramo de influenciadores virtuais vem crescendo consideravelmente no mercado. Este ano, uma agência de notícias chinesa lançou sua segunda âncora virtual de notícias. Outro exemplo é a Lil Miquela, uma influenciadora virtual do Instagram, que estrelou ao lado da supermodelo Bella Hadid em uma campanha da Calvin Klein.
De acordo com a TrendWatching, no futuro os consumidores estarão mais atentos às marcas que se incorporam por meio de novos personagens e avatares virtuais, permitindo que eles habitem os canais digitais de maneiras mais ricas, imersivas e humanas. Cada vez mais os consumidores estão se acostumando a relacionamentos significativos com entidades movidas à Inteligência artificial, e esta tendência deve crescer cada vez mais.
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