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08 abr
Burocracia versus Autocracia

Artigo de Charles Beserra, aluno do 9º período de Direito do iCEV debate sobre dois sistemas: a Burocracia e a Autocracia.

Em uma entrevista ao cineasta Oliver Stone, Vladimir Putin expressa uma incontornável desesperança ante, segundo ele, a política de hostilidade e indiferença de Washington em relação ao Kremlin. Ele afirma que não importa quem seja o presidente dos EUA, as garras da burocracia americana conseguem cooptá-lo para seus interesses pré-estabelecidos.

 

De fato, analisando-se a condução da política externa americana em vários governos, observa-se que o país sempre esteve envolvido em algum conflito. Por outro lado, fica evidente na entrevista, inclusive com perguntas muito pertinentes de Sr. Stone (que provavelmente não teria feito a entrevista se não demonstrasse estar afastado do ideário de Washington) que, como a Rússia não tem uma boa burocracia como a americana, precisa valer-se da autocracia de Putin.

Onde não há burocracia, faz-se necessária a autocracia. Uma baseia-se na impessoalidade, a outra, na pessoalidade. Uma se baseia no sistema, outra, no indivíduo.

 

O que é burocracia?

Em sua obra, “O que é burocracia “, Marx Weber afirma que a burocracia é aquilo que torna a administração de uma instituição eficiente, eficaz, garantindo rapidez e racionalidade ao trabalho. Além disso, afirma que o modelo reduz os problemas internos de trabalho.

Etimologicamente, burocracia decorre da fusão de duas palavras: bureau + cracia. Bureau é uma palavra de origem francesa e pode ser usada para designar escritório, departamento, setor administrativo e “cracia”, de origem grega, que dizer governo.

Assim, juntando-se as acepções tem-se, grosso modo, que burocracia é um a administração ou governo por processos padronizados. Por seu turno, autocracia provém de duas palavras gregas “auto” e “cracia”. “Auto” designa “próprio, que se move sozinho” e “cracia”, como foi dito acima, é governo. Dessa forma, autocracia designa a ideia de autogoverno, especialmente no sentido de uma liderança pessoal muito forte.

 

A máquina burocrática

Comparando-se os dois sistemas, a burocracia apresenta, no aspecto temporal, algumas vantagens sobre a autocracia. Na burocracia, o ethos (conjunto de valores) é incorporado ao sistema e o torna impessoal. Já não depende do impulso ou motivação individual, senão para dar sua criação e start. Uma vez posta em funcionamento, a máquina burocrática se movimenta por si na direção traçada inicialmente.

Um parêntesis: a grande malignidade do regime nazista apontada por Hannah Arendt, cujo objetivo era erradicar judeus da Europa, na chamada “questão judaica” levantada pelo governo alemão de então, foi que isso foi incorporado dentro da burocracia de Estado.

A questão então transcende o aspecto pessoal e a máquina se torna mortífera, aumentando a eficácia com que atinge seus objetivos. Para a “solução” da “questão judaica” já não era apenas um grupo que deflagrava a perseguição. Era todo um sistema. Por isso, Hannah Arendt observou que até mesmo um governo de ninguém, isto é, um governo burocrático pode ser ainda mais perigoso que um governo baseado numa única liderança.

O Brasil e a forte burocracia

Segundo a filósofa (A condição humana, p. 49), “o governo de ninguém não é necessariamente um não-governo; pode, de fato, em certas circunstâncias, via a ser uma das suas mais cruéis e tirânicas versões”. Nesse estágio, já não seria apenas crimes de governo. Seriam crimes de estado.

A burocracia é preestabelecida para um fim. O Brasil, por exemplo, é um pais onde há forte burocracia, contudo é uma burocracia de meio, auto referenciada, e não de fim, como a americana parece ser. Assim, o papel de todo estadista parece ser a implementação de uma burocracia que faça a máquina girar independentemente da sua liderança. E nesse ponto o estadista é anti-autocrata.

 

Estratégias de estadistas

A sua preocupação é deixar a máquina política funcionando mesmo após o seu governo. Nisso o estadista se aproxima do gestor profissional que pensa em termos estratégicos. O estadista não pensa em termos de governo, transitório, mas em termos de estado, permanente.

Depender de um homem ou um grupo específico é algo temerário. Inúmeras circunstâncias podem contribuir para o alijamento de uma liderança. Isso expõe o grupo à vulnerabilidade e à instabilidade. Uma vez ausente o líder autocrático, o sistema tende a entrar em parafuso.

Na autocracia, o sistema recebe do líder seu entusiasmo. Todo seu ethos. Assim, no caso Russo, a destituição de Putin poderia colocar em cheque a política de desenvolvimento social implementada desde a desintegração da URSS. Todavia, parece intuitivo concluir que é melhor depender de um sistema do que de uma pessoa.

Pessoas passam, instituições permanecem

Outro aspecto interessante é aquele relacionado ao culto da personalidade. Na autocracia o líder é sua própria referência. Há uma forte propaganda apontando para o líder. O sistema passa ser secundário. O líder torna-se um semideus infalível. Diante de tanto apelo à megalomania, é comum em governos autoritários a dificuldade de passagem o posto de comando (Putin já vai para mais de 20 anos!).

Diante do exposto, resta demonstrado que uma instituição deve pensar seriamente em privilegiar a burocracia em detrimento da autocracia. Pessoas passam; as instituições permanecem!

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