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26 set
Novas tecnologias e a formação do profissional jurídico

Um texto dedicado a tranquilizar – ou não – o atual estudante de direito

Ao se formar em direito, cada geração encontra uma realidade diferente quando entra no ambiente de trabalho. É perfeitamente possível dizer que o advogado contemporâneo de Rui Barbosa é um profissional totalmente diferente daquele que exercia o mesmo ofício em meados da década de 90, época em que as privatizações agitavam o Brasil. Nos últimos tempos – entenda-se meses – o frenesi gira em torno de temores relacionados à chegada da tecnologia de ponta no âmbito jurídico.

A questão que corre entre estagiários e estudantes de direito é: haverá emprego para quando se graduarem?

De fato, é inegável que recentemente o mercado tem sofrido impacto atrás de impacto por conta do surgimento cada vez mais proeminente de tecnologias aplicáveis às profissões jurídicas. Ao presenciar um software emitir uma debênture em seis minutos ou uma plataforma gerar uma petição em menos de dez, é totalmente compreensível que o graduando de hoje pense em “correr para as colinas”. A ideia de que a automação e a inteligência artificial talvez substituam a atuação destes profissionais – principalmente os mais novos – é realmente apavorante para quem sequer concluiu o ensino superior.

O objetivo destas tecnologias, contudo, é outro. O surgimento de ferramentas tão sofisticadas não tem como mote a substituição do trabalho de um advogado, por exemplo, e sim tornar o seu trabalho mais intelectual e especializado. A noção é que seja liberado o tempo de um profissional altamente qualificado para que este possa de fato se concentrar na realização de tarefas que exigem sua inteligência e dedicação.

Com este ponto, sim, o graduando deve se preocupar. Em pouco tempo, gradativamente será mais exigida uma formação aprofundada dos profissionais jurídicos, em um mundo bastante competitivo no qual sobreviverá aquele capaz de desenvolver tarefas complexas. Diante disso, resta imaginar que o futuro do graduando em direito depende de si; nunca foi tão fundamental que o tempo de faculdade seja dedicado exclusivamente à aquisição de conhecimentos que vão muito além do básico.

Isso envolve escolher uma área desde cedo, pesquisar com afinco os temas que lhe concernem, produzir conteúdo relevante e se relacionar com o mercado assim que possível. Parece uma tarefa árdua para alguém tão jovem, porém toda a energia que isto demanda faz com este seja o melhor momento para cumpri-la. Afinal de contas, em um ambiente em que tarefas triviais se tornam automatizadas, o espaço é reservado somente para os indispensáveis.

Todas estas ideias passam longe de serem apocalípticas. Muito pelo contrário: há quem diga que a atuação de advogados será inteiramente substituída por “robôs”. Entretanto, a relação existente com tais sistemas é mais simbiótica do que parece: a questão da confiança, o engenho intelectual e o contato interpessoal, por exemplo, são aspectos que ressaltam a indispensabilidade de características que somente o ser humano pode prover. Neste sentido, quem sabe o advento destas tecnologias não signifique um retorno às atividades para as quais o aspecto humano mais se faz necessário, em detrimento de funções burocráticas e administrativas que juristas assumiram, desnecessariamente, ao logo da história.

O que eu gostaria de ter ouvido enquanto ainda estava na graduação era uma noção da realidade que tento passar por meio deste texto. O mundo encontrado para além dos muros da faculdade é totalmente diferente do que ainda se prega na maior parte dos cursos de direito. Da forma como serviços são cobrados até a forma como estes são executados, novas tecnologias vêm transformando o propósito das profissões jurídicas – para melhor. Por tal razão, uma parcela desta formação diferenciada também cabe às instituições de ensino, que devem ser capazes de transmitir a seus alunos os desafios enfrentados no “campo real”.

Atualmente, é indispensável que sejam trazidas ao ambiente acadêmico discussões relacionadas às preocupações dos profissionais de um amanhã não tão distante, em que relações sociais serão balizadas por elementos pouco inteligíveis, como códigos e linguagens diferenciadas. O ser humano se relacionará cada vez mais com máquinas e esta interação não pode passar despercebida por juristas. Se não houver a atenção desde cedo a tais temas, em breve poucos graduados serão capazes de tratar a seu respeito – e que caos isto seria.

Voltando à indagação levantada no início do texto: diante desse cenário, é preciso “correr para as colinas”?

Francamente, não. O maior conselho possível é não ignorar que estas mudanças já são verdade e que cada um se faça necessário neste terreno tão competitivo que é o mercado de trabalho em direito. Para se destacar daqui para frente, é primordial não perder tempo reclamando ou abnegando a tecnologia. A competitividade está aí: passo a passo maior e as atividades jurídicas, mais especializadas.

Se empenhar para ser indispensável é o caminho mais conveniente para o jovem operador do direito do futuro.

Fonte: Victor Cabral Fonseca/JOT

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