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12 jul
Mulheres no mercado financeiro: Desafios e Inspirações

Entenda onde estamos no caminho para a igualdade de gênero no mercado financeiro e conheça mulheres inspiradoras

Outro dia, em uma conversa com colegas sobre mulheres no mercado financeiro e protagonismo, falávamos sobre como é importante ter uma mulher para se inspirar, seja pessoal ou profissionalmente.

Como mulher profissional do mercado financeiro, naturalmente me peguei pensando em quem me inspira nessa área e quem são as referências mais comuns citadas por outras pessoas.

Você já conhece muitos deles: Warren Buffet, Peter Lynch, Howard Marks e outros. Mas, apesar de pensar em vários nomes de influenciadoras e outras analistas e especialistas, não consegui me lembrar de nenhuma mulher autora de livros, que seja tão referenciada quanto os citados acima.

“Por quê?”, me perguntei. Não há nada de errado com esses homens, já que trouxeram muitas contribuições importantes para os profissionais de hoje em dia. Mas não é um pouco estranho que não tenhamos nenhuma mulher nesse patamar? Talvez.

Ocorre, porém, que nossa representatividade vem crescendo exponencialmente nos últimos anos e me orgulho de ver analistas, gestoras, empreendedoras e investidoras que estão conquistando seu espaço no mercado financeiro. Por isso, resolvi fazer esse artigo e, quem sabe, inspirar mais mulheres a buscarem seu lugar, onde quer que ele seja.

caneca onde se lê "the future is female", representando as mulheres no mercado financeiro
Fonte: Unsplash – Photo by CoWomen

Qual a representatividade das mulheres no mercado financeiro?

O mercado financeiro é um ambiente predominantemente masculino. Seja no âmbito da atuação profissional ou no perfil de investidores em bolsa de valores, essa característica fica evidente.

Dados divulgados pela B3 em perfil de gênero, apontam que, dos quase 5 milhões de CPFs de investidores, 77% são homens e 23% mulheres.

Apesar das grandes transformações quanto ao papel da mulher na economia nas últimas décadas, com avanços relevantes no mercado de trabalho, ainda notamos grandes distorções nas taxas de participação enquanto investidoras e também como agentes protagonistas deste segmento.

De acordo com dados do IBGE, as mulheres correspondem a 51,29% da população brasileira. Ainda assim, uma série de entraves de ordem cultural, socioeconômica, bem como questões de gênero, raça, misoginia, entre outras, permanecem presentes no cotidiano feminino e, como não poderia deixar de ser, se perpetuam nas relações de trabalho e nas oportunidades desiguais.

Pesquisas relevantes

Em março de 2021, o IBGE  publicou a pesquisa “Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil”, com dados de 2019, reportando que apesar das mulheres terem escolaridade maior, elas ocupam 37,4% dos cargos gerenciais e recebem 77,7% do rendimento dos homens.

Sendo assim, o mercado financeiro acaba sendo um microcosmo que reflete o macro:  temos visto, nos últimos anos, o aumento da contratação de mulheres, entretanto, a maioria não ascende aos cargos mais altos da hierarquia. Com a pandemia, esse quadro se agravou ainda mais.

Em janeiro de 2022, de acordo com dados apurados diretamente com o departamento de Comunicação e Marketing da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), as mulheres eram apenas 7% do total de profissionais com Certificação de Gestores de Carteiras Anbima (CGA) – 296 de 4.394 aprovados.

O mesmo acontece com analistas CNPI. No site da Apimec, dos 1339 profissionais listados como analistas credenciados, apenas 171 são mulheres.

O Distrito, plataforma de inovação para startups e investidores, publicou em 2021 o Female Founders Report. O estudo apontou que 8,2% das startups de serviços financeiros são fundadas ou cofundadas por mulheres. Um número ainda bastante tímido, que demonstra que os desafios do empreendedorismo ainda têm na questão de gênero uma barreira de entrada relevante.

Vale a pena conhecer em detalhes o estudo do Female Founders Report e os importantes insights acerca do potencial da participação das mulheres no mercado financeiro.

Eufrásia: a primeira mulher na bolsa de valores

O expressivo número de 1 milhão de investidoras na B3 atualmente, resulta de um longo processo de lutas sociais e busca por protagonismo. Quando o tema é mercado financeiro e pioneirismo feminino, os caminhos começaram a ser abertos ainda no século XIX.

A carioca Eufrásia Teixeira Leite, neta e herdeira do Barão do Campo Belo, político e fazendeiro de café, iniciou sua bem sucedida carreira como financista em Paris, para onde se mudou em 1873, quando seu pai faleceu.

Apesar de todos os obstáculos impostos por uma sociedade machista, onde mulheres não possuíam nem mesmo direitos civis básicos como votar ou dirigir, e sequer podiam circular no ambiente dos pregões das bolsas de valores, Eufrásia se impôs. No período entre 1890 e 1930, operou em bolsas de valores de 17 países, multiplicou a herança recebida do pai aos 23 anos, e tornou-se bilionária.

Apesar de seu talento e êxito no mercado financeiro, a misoginia cobrou seu preço. Durante décadas, a história referiu-se à Eufrásia apenas como “a amante de Joaquim Nabuco”, apesar de ambos serem solteiros durante os 14 anos em que namoraram.

O reconhecimento à importância histórica de Eufrásia Teixeira Leite aconteceu apenas em 2019. Neste ano, Mariana Ribeiro publicou o livro “Quero ser Eufrásia“, onde o devido crédito foi dado à financista. Inclusive, a B3 e a ONU Mulheres reconheceram Eufrásia oficialmente como a primeira investidora brasileira.

A carioca Eufrásia Teixeira Leite, neta e herdeira do Barão do Campo Belo, político e fazendeiro de café, iniciou sua bem sucedida carreira como financista em Paris, para onde se mudou em 1873, quando seu pai faleceu.

Apesar de todos os obstáculos impostos por uma sociedade machista, onde mulheres não possuíam nem mesmo direitos civis básicos como votar ou dirigir, e sequer podiam circular no ambiente dos pregões das bolsas de valores, Eufrásia se impôs. No período entre 1890 e 1930, operou em bolsas de valores de 17 países, multiplicou a herança recebida do pai aos 23 anos, e tornou-se bilionária.

Apesar de seu talento e êxito no mercado financeiro, a misoginia cobrou seu preço. Durante décadas, a história referiu-se à Eufrásia apenas como “a amante de Joaquim Nabuco”, apesar de ambos serem solteiros durante os 14 anos em que namoraram.

O reconhecimento à importância histórica de Eufrásia Teixeira Leite aconteceu apenas em 2019. Neste ano, Mariana Ribeiro publicou o livro “Quero ser Eufrásia“, onde o devido crédito foi dado à financista. Inclusive, a B3 e a ONU Mulheres reconheceram Eufrásia oficialmente como a primeira investidora brasileira.

Conversas com Gestores de Ações Brasileiros, Luciana Seabra

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A jornalista e CEO da Spit, Luciana Seabra, entrevistou grandes gestores de fundos e trouxe, nesta obra, a visão e principais estratégias que norteiam as decisões de investimentos dos maiores players do mercado financeiro.

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Mulheres que Lucram – um guia para a independência financeira e emocional feminina

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O livro da economista Francine Mendes aborda o tema da equidade de gênero no mercado financeiro e em cargos de liderança. Além disso, trabalha conceitos de economia e finanças pessoais.

enda Fixa Não é Fixa, Marília Fontes

Renda Fixa não é Fixa

A mestre em Economia, analista CNPI e especialista em renda fixa da Nord Research, Marília Fontes, explica com profundidade o funcionamento e a precificação dos títulos de renda fixa, conceitos importantes para qualquer investidor que pretende gerir sua própria carteira com maestria.

Por que ainda precisamos apoiar as mulheres no mercado financeiro?

Fomentar o debate quanto ao espaço das mulheres no mercado financeiro não se trata apenas de justiça e equiparação, o que por si só já é excelente motivo. Mas, em um segmento onde os números são os indicadores de sucesso, podemos trabalhar por esse prisma: promover a equidade é também uma questão de melhorar a performance e a produtividade do setor:

  • estudo divulgado pela McKinsey demonstrou que empresas com maior diversidade de gênero têm 93% mais chances de superar concorrentes em performance financeira;
  • empresas que investem em equidade de gênero têm se mostrado mais produtivas e lucrativas;
  • o engajamento do consumidor com empresas de cultura inclusiva é muito mais elevado e culminam com incremento de receitas de até 19%;
  • pesquisa do S&P Global Market Intelligence apontou que CFOs do sexo feminino geraram maior lucratividade e valorização das ações de suas empresas em apenas 2 anos após sua contratação;
  • estudo do Goldman Sachs que avaliou quase 500 fundos de investimento, apontou que aqueles geridos por mulheres apresentaram em 2020 performance superior àqueles geridos exclusivamente por homens;
  • Relatório publicado em 2016 pela Mckinsey, em parceria com a Lean In – organização voltada à promoção de lideranças femininas – estimava que políticas de igualdade de gênero teriam potencial para injetar quase USD 30 trilhões na economia global até 2025.

Estes são apenas alguns aspectos quantitativos que demonstram os benefícios diretos que a equidade pode proporcionar ao desenvolvimento econômico de nossa sociedade. Mas, para além deles, toda uma questão qualitativa e de cunho sociocultural também está posta.

O apoio às mulheres no mercado financeiro envolve incorporar a dimensão de gênero nas políticas de desenvolvimento social, reconhecendo direitos inerentes à condição feminina, ampliando o debate sobre a construção social do papel da mulher na divisão do trabalho e o impacto que os estereótipos de gênero impõem no acesso às oportunidades de trabalho e a bens materiais.

É urgente que empresas, Estado e sociedade civil compreendam que é missão de todos evoluir nos debates para romper com uma cultura estereotipada que ainda sobrecarrega mulheres, restringindo a elas exigências ligadas aos cuidados com a família, criação de filhos e demais atividades tidas como “femininas”.

Como ajudar a inserir as mulheres no mercado financeiro?

Em linhas gerais, as questões que permeiam o acesso de mulheres no mercado financeiro são as mesmas para o mercado de trabalho como um todo, independente da área.

Os desafios que envolvem a ampliação do espaço feminino no mercado financeiro são complexos. A resposta a esta questão, certamente, renderia um estudo com muitas laudas e amplas discussões quanto ao papel das empresas, universidades, do consumidor e das políticas públicas de saúde, educação e diversidade.

A título de introdução ao tema, listei abaixo algumas iniciativas que merecem a atenção por parte das empresas, governos e sociedade:

  • implementação de práticas corporativas inclusivas que contemplem licença parental equânime e que não estigmatize as mulheres;
  • formulação de políticas mais claras e objetivas para avaliação de performance, levando em conta aspectos socioculturais que tornam as oportunidades desiguais;
  • criação de fóruns e debates sobre diversidade e os desafios à modificação da cultura das empresas. Garantir que esta seja uma agenda perene e não apenas uma semana de eventos no mês de março, dentro do calendário comemorativo do mês da mulher;
  • assegurar que os processos de recrutamento levem em conta a diversidade desde o momento da abertura de vagas;
  • valorizar empresas cuja cultura privilegie o tema diversidade, e possua políticas e metas claras quanto à promoção da equidade;
  • eleger mais mulheres para cargos legislativos, sobretudo aquelas comprometidas com a temática de gênero e diversidade. Cobrar dessas mulheres a atuação propositiva visando políticas públicas inclusivas e que fomentem educação financeira, políticas de incentivo ao empreendedorismo feminino e maior acesso aos serviços públicos essenciais;
  • envolver a sociedade civil no debate sobre a representatividade das mulheres no mercado financeiro como meio de emancipação e também como instrumento de desenvolvimento econômico das comunidade;
  • cobrar das empresas uma atuação mais proativa e comprometida com a superação das desigualdades e preconceitos. Privilegiar o consumo de produtos cujas empresas tenham essas premissas como proposta de valor.

Iniciativas que têm contribuído com o acesso das mulheres no mercado financeiro

Atualmente, temos algumas iniciativas interessantes ao redor do mundo, com foco em ampliar o protagonismo feminino no mercado financeiro. Algumas com alcance local, outras em âmbito global, mas, o fundamental mesmo é perceber que esse debate vem ganhando força e apoio de grandes nomes do mercado.

100 Women in Finance, organização global voltada à igualdade de gênero nas finanças. Realizam importante trabalho de capacitação e inserção de mulheres no segmento financeiro.

A meta da organização é que, até 2040, as mulheres ocupem pelo menos 30% das equipes de investimentos e cargos de liderança. Com atuação global, a ong tem também um braço brasileiro, tendo como Copresidente Francine Balbina/Modal, Nicole Dyskant (Dyskant Advogados) e Paula Attie (CME Group).

Women in Banking & Finance – com atuação no Reino Unido, realiza eventos e cursos com foco na ampliação da participação feminina do mercado financeiro.
Women’s Word Banking – o WWB merece destaque por seu histórico de 40 anos de atuação  no empoderamento financeiro feminino em 35 países. No escopo da ong, estão soluções financeiras digitais escaláveis, fomento de políticas públicas inclusivas, programas de liderança e diversidade, consultoria e capacitação, fundo de private equity com lentes de gênero, entre outras atividades.
Mulheres Investidoras Anjo – o MIA tem como missão incluir mulheres nas rodas de investimento, bem como fomentar investimentos em negócios comandados por mulheres.

Criado pela investidora Maria Rita Spina Bueno e as empresárias Ana Fontes e Camila Farani, o grupo busca conectar investidoras, empreendedoras e fundos de investimento.

Fin4she – fundada por Carolina Cavenaghi, a plataforma implementa projetos focados em independência financeira feminina e ampliação do protagonismo das mulheres no mercado financeiro. A plataforma é também responsável pelo evento Woman in Finance Brazil.
Programa Diversidade em Conselho (PDeC), ação conjunta entre a B3, Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), International Finance Corporation (IFC), Spencert Stuart e WomenCorporationDirectors Foundation (WCD), cuja finalidade é disseminar boas práticas de governança corporativa, além de preparar executivas para atuar em conselhos de administração, conselhos fiscais, comitês de entidades do setor público e privado.

Conclusão

Os desafios ainda são muito grandes, contudo, o caminho está aberto e evoluindo. Hoje, temos muito mais acesso a informações de qualidade e sobretudo visibilidade.

A diferença salarial e de oportunidades de carreiras ainda é o principal obstáculo a vencer, bem como as políticas de concessão de financiamentos a empreendedoras.

Mas, dentre todas as ações afirmativas para superação de desigualdades, o maior de todos os desafios é a mudança cultural. Passaram-se mais de 130 anos desde que Eufrásia Teixeira Leite rompeu paradigmas e tornou-se uma das maiores financistas de seu tempo. Ainda assim, algumas barreiras culturais, misoginia e preconceitos que ela enfrentou, ainda perduram até hoje em nossa sociedade.

A reflexão quanto aos motivos que fazem com que ainda tenhamos que persistir nesse debate é ponto de partida para construirmos uma sociedade com igualdade de diretos e acesso às oportunidades. Afinal, as mulheres são metade da população mundial e mães da outra metade, então, se tivermos uma sociedade mais justa para elas, não há dúvidas de que será mais justa para todos.

Publicado por iDinheiro 

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