“Eu ainda lembro o texto que mudou a minha vida”. De cabelos lisos e longos, elegante e simpática, Danny recorda, em detalhes, como a prática da leitura mudou sua trajetória. Ainda adolescente, encontrou nos livros a saída para a angústia de existir no corpo errado. Hoje, a professora Danny tem uma biblioteca invejável: mais de 2.500 títulos disputando espaço no apartamento onde mora.

A paixão pela leitura começou quando ela se preparava para tentar medicina na USP. “Eu via que quem escrevia as melhores redações eram as pessoas que liam”. O raciocínio de Danny despertou o gosto por filosofia e literatura. Acabou entrando para a graduação em Direito que frequentava em paralelo com cursos de alemão, inglês e francês, ao mesmo tempo – adorava brincar com dicionários e descobrir novas palavras.

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A capacidade de relacionar temas complexos com a literatura clássica fez a Danny despontar como professora de argumentação – começou a comandar turmas em cursinhos, no ensino médio e nos preparatórios para vestibular pela cidade. O desafio? Ensinar alunos a argumentar, com base nos clássicos da filosofia e da literatura, em discussões sobre temas polêmicos.

Não se trata, no entanto, de um curso de Redação. “Professor de Redação fala da estrutura do texto, introdução, desenvolvimento, conclusão, das competências do Enem”, compara Danny. “O meu modelo de aula é discussão de tema, só que de maneira mais aprofundada”, esclarece.

No iCEV, ela vai comandar a oficina Expedição pelo Mundo da Cultura, com início no primeiro semestre de 2018, opcional para os alunos de Direito e aberta à comunidade. Serão encontros mensais, onde a ideia é escolher uma obra clássica para ser discutida a cada encontro. E por que debater Platão, Aristóteles e Sócrates podem ser útil ao Direito? –  você deve estar se perguntando. “Porque o Direito nunca vai resolver todos os problemas”: a Danny responde.

“Você vai pra uma decisão do Supremo acerca de aborto de anencéfalos”, exemplifica a professora, pegando como deixa as últimas notícias que reacenderam o debate no país. “A única coisa que tem, no Direito, lá na Constituição, é o artigo quinto que fala da inviolabilidade da vida humana. É um aspecto. É inviolável, ou seja, não cabe aborto em nenhuma hipótese. Aí você vai pro Código Penal e lá tem as exceções. Você acha que só isso resolve? Um debate complexo como esse?”, questiona. “Você vai ter que ir pra embriologia, para os conhecimentos mais avançados de medicina, pra filosofia – e este é um dos debates mais ricos desta área, sobre quando se inicia a vida humana”, argumenta didaticamente. “Ainda entram vínculos com o sistema de saúde pública, aí você vai ter que ir para outro ramo. Então é algo muito complexo para se restringir somente a uma área do conhecimento”.

Bebendo dos clássicos para responder perguntas atuais, a vegetariana, que usa a bicicleta como transporte e faz planos de ir morar na Alemanha, acredita na literatura como arma de salvação – seu perfil no Instagram, seguido por quase seis mil pessoas, alerta: @so.shakespeare.salva. “É impressionante que em todas as peças do Shakespeare você encontre trechos que te dão respostas para problemas extremamente atuais. E ele é do século XVI pro XVII!”, admira-se, revelando o motivo de algumas obras tornarem-se clássicos: a natureza humana não se altera.

“A literatura serve para irrigar o Direito”, defende, ressaltando o caráter pragmático da ciência jurídica. Além de fazer essa ponte interdisciplinar, Danny tem certo poder motivacional entre os jovens – percebeu o efeito de suas palavras para estudantes. “Descobri que as coisas que eu escrevo e faço têm um impacto nas outras pessoas. Eu tenho uma missão maior”. Ela aprendeu a se blindar e seguir linda e loira pedalando por novos caminhos. Promete que, em breve, vai compartilhar a receita: “Meu próximo curso será ‘Como ser plena’”.

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