Você já parou alguma vez para pensar como seria a Mona Lisa na vida real? Seus trejeitos, sua forma de falar? Como sacudiria os cabelos e como sorriria de verdade? Pois a inteligência artificial resolveu isso para a humanidade. O Samsung AI Center, que fica em Moscou, na Rússia, publicou um estudo que mostra como já é tecnicamente possível “dar vida” e “animar” um rosto a partir de um único frame de imagem – foto ou pintura. Adicionar voz a partir daí é moleza. Quase qualquer um pode fazer.
No experimento, La Gioconda, pintada por Leonardo Da Vinci entre 1503 e 1506, mexe de um lado para o outro. O mesmo acontece com a atriz americana Marilyn Monroe e o pintor espanhol Salvador Dalí, falecidos em 1962 e 1989, respectivamente. A partir de fotografias históricas de ambos, os especialistas animaram celebridades de todas as partes do mundo. Veja o vídeo a seguir:
Passei os últimos dias mostrando o resultado dessa experiência aos mais diversos tipos de profissionais – de checadores de fatos a professores do ensino médio, passando por artistas plásticos e arquitetos. A reação foi a mesma para todos – e na mesma ordem. Primeiro veio o encantamento. Já não restam dúvidas de que parecem infinitas as possibilidades da inteligência artificial, e todas elas são surpreendentes. Um dos indivíduos expostos a esse avanço tecnológico chegou a pensar em seus entes queridos falecidos e a exclamar “Nossa! Então meus pais e meus avós poderiam voltar a falar e se movimentar? Que coisa incrível!”
Mas, logo em seguida, a reação se associava à veracidade dos fatos. Comentários na linha “Então dá para manipular qualquer coisa agora” se tornaram frequentes. E, por estarem diante de uma fact-checker, surgia o questionamento: “Os checadores já estão preparados para verificar esse tipo de alteração?” A resposta é, provavelmente, não.
No exemplo da Mona Lisa, os especialistas mostram com clareza que é possível fazer não apenas uma versão da Gioconda, mas três – com três estilos e personalidades diferentes: uma mais risonha, mais extrovertida, e outras mais tímidas, mais acanhadas. São sutilezas que vão além da técnica e que, obviamente, adicionam camadas de dificuldade à checagem de fatos.
Extrapole essa técnica a cenários imagináveis possíveis. Pense em políticos falecidos que podem “renascer” dizendo frases que jamais disseram ou se comportando de forma que não condizem com seu estilo real. É fato que fizeram isso com Barack Obama, Donald Trump e Vladimir Putin, entre outros. Mas imagine fazer isso com Josef Stálin ou Adolph Hitler – que já não estão vivos para negar possíveis falas falsas. Será necessário avançar diversos graus na análise técnica de imagens e vídeos para poder flagrar algo assim como falso.
E é por isso que a checagem de fatos não pode ser exclusivo de jornalistas ou especialistas em dados. É urgente que profissionais formados em áreas relacionadas à tecnologia da informação, à inteligência artificial e ao uso ostensivo de vídeos se integrem à massa de checadores ao redor do mundo. Os avanços nesse tipo de manipulação também têm de acompanhar o lado do fact-checking. Caso contrário, estaremos fadados ao atraso – e ao fracasso.
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