O economista Nouriel Roubini, professor da Universidade de Nova York, disse que o Produto Interno Bruto (PIB) potencial dos EUA, beneficiado pela presença norte-americana na vanguarda da tecnologia mundial, pode subir para 4% nos próximos dez anos ante uma previsão anterior de 1,8%.
Ao ver oportunidades para o Brasil e avaliar “prós e contras” da economia local, ele também afirmou que “o Brasil precisa fazer reformas para elevar o crescimento potencial, reduzindo a corrupção e as burocracias”.
Roubini prevê que as novas tecnologias podem elevar o potencial dos EUA até para 6% na próxima década. Segundo ele, as inovações tecnológicas, por sua vez, podem impulsionar um crescimento global.
Ele afirmou que os Estados Unidos vão liderar as novas tecnologias, com exceção da mobilidade, liderada pela China. Na avaliação dele, é errônea a avaliação de que a economia da China vai ultrapassar a americana em breve.
Conhecido pelo apelido de “Doutor Catástrofe” por ter antecipado a crise marcada pela quebra do banco Lehman Brothers em 15 de setembro de 2008, o economista acredita que o excepcionalismo americano deve continuar no longo prazo, com ativos americanos tendo performance superior apesar de um valuation (valor de mercado) elevado.
Roubini ponderou que muitas das políticas do governo Donald Trump podem levar a menor crescimento e a inflação mais alta, inclusive elevando o déficit fiscal. Contudo, segundo ele, as más políticas do presidente americano tendem a ser contidas pelo mercado financeiro, por exemplo, via o mercado de títulos dos EUA.
“Trump pode controlar seu partido, o Congresso, a Suprema Corte e até mesmo as mídias sociais. Ele pode controlar tudo isso, mas não pode controlar o mercado de títulos, os vigilantes de títulos”, afirma o economista, reconhecido pela precisão na análise de riscos globais.
Segundo Roubini, mesmo que os EUA tenham uma moeda de reserva internacional, o país está sujeito à “disciplina do mercado”. Ele exemplifica com a independência do Federal Reserve (Fed, banco central americano): “o Fed, sendo independente, pode até mesmo subir taxas e forçar o recuo de Trump”, avalia.
Ele vê a hegemonia e as reservas globais do dólar preservadas, mesmo que muitas pessoas não gostem da moeda americana. “Alguns podem não gostar do dólar, mas não há como substituí-lo por nada”, disse o economista, frisando que não acredita que a moeda chinesa tenha condições de ser esse substituto.
“Mesmo que haja essas tarifas exorbitantes, os EUA continuariam importando capital do mundo inteiro”, disse ele, reforçando que essa grande entrada de capital impedirá um enfraquecimento mais significativo do dólar. Para Roubini, as moedas fortes continuarão sendo a dos países considerados “líderes” que têm mais poder não só comercial, mas também militar.
Especificamente em relação à América Latina, Roubini citou que o Brasil pode se aproveitar desse cenário a partir, por exemplo, dos investimentos cada vez maiores dos potenciais globais em tecnologias. “Data Centers podem vir para o Brasil a um preço mais barato que nos EUA”, disse o economista, citando o potencial de produção de energia barata do País.
Quanto à economia, ele considera que o Brasil tem uma situação com prós e contras. Do lado positivo, o crescimento econômico e a renda vão bem, a taxa de desemprego está muito baixa, e há um dinamismo grande nas exportações de commodities.
Do lado negativo, a consolidação fiscal ainda é um desafio. Segundo Roubini, o déficit está elevado e ainda é difícil o Brasil alcançar o saldo zero, meta fiscal do governo Lula.
Para Roubini, dependendo do resultado da eleição, pode haver uma consolidação fiscal com mais reformas, ou a situação pode continuar igual. “Se mantiver o status quo, pode ter problema”, disse, frisando que a estabilidade da dívida pública não é suficiente, sendo “necessário melhorar alguns pontos, pois há choques domésticos e ameaças internacionais” no radar.
Roubini afirmou que há uma iminente mudança na ordem global, com tendência para um mundo de desglobalização ou globalização lenta. “Antes havia multilateralismo e cooperação, e estamos indo em direção ao unilateralismo. Não só dos EUA. Outros países fazem isso: Índia, China, Brasil”, disse o economista.
Publicado em Estadão
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